- PARTE 2 - APEGO À NEGATIVIDADE

         “O indivíduo que quer ter uma resposta para o problema do mal, tal como ele se apresenta hoje em dia, precisa, acima de tudo, de autoconhecimento; quer dizer, do conhecimento mais absoluto possível da sua própria totalidade. Ele deve conhecer profundamente quanto bem ele pode fazer e que crimes é capaz, e deve ficar alerta par não considerar uma coisa como real e a outra como ilusão. Ambas são elementos dentro da sua natureza e ambas devem vir à luz, caso queira – como deveria – viver sem se enganar ou se iludir”.  C.G. Jung1

“Não há dúvida de que essa ideia de mentalidade sadia é inadequada como doutrina filosófica, porque os fatos maléficos que ela categoricamente se recusa a explicar são uma porção genuína da realidade; e eles podem ser, no fim das contas, a melhor chave para a compreensão do significado da vida e, possivelmente, os únicos que podem abrir os nosso olhos para os níveis mais profundos da verdade”.  William James12

A Parte 1 deste livro preparou o campo, ensinando-nos como observar a nós mesmos mais cuidadosamente, a reconhecer a criança irracional e infeliz que vive dentro de cada um de nós e perceber as Máscaras, enganos e falsas soluções que adotamos em nossas tentativas de ficar numa posição de vantagem sobre a vida.

A Parte 2 concentra-se mais de perto no nosso mal pessoal enquanto fonte de toda a nossa infelicidade.

Não é fácil encarar o nosso próprio mal. Fazê-lo requer grande coragem e também grande compaixão em relação a nós mesmos. Você pode ser tentado, em algum ponto no decorrer deste livro, a abandonar a sua leitura e não voltar mais a ele. Quanto a mim, precisei de muito tempo para realmente ingressar neste Pathwork e eu me lembro das muitas vezes em que abandonei uma palestra, desanimado, inventando para mim mesmo

______________

11 C. Jung. Memories, Dreams, Reflections. Pantheon Books, 1973, p. 330.                                                                             12 William James. The Varieties of Religious Experience. Mentor, 1958. pp. 137-138. [As Variedades da Experiência Religiosa, Editora Cultrix, São Paulo, 1991.]

uma razão para não acreditar naquilo. Descobri que olhar para as minhas próprias falhas e insuficiências, em profundidade e extensão, não era um dos maiores prazeres da vida.

Foi difícil para mim passar da teoria para o campo pessoal e prático. Eu acreditava na importância de amar toda a humanidade; chegava mesmo a pregar essa atitude; e, contudo, descobri, na prática, que eu costumava ser indiferente aos sofrimentos dos outros, rancoroso com meus amigos, e por vezes era cruel até com a milha mulher e com meus filhos. E além disso, eu frequentemente fazia vista grossa à dissonância e falhava em enxergar a contradição entre as minhas crenças declaradas e o meu verdadeiro comportamento.

Uma das razões pelas quais eu era tentado a permanecer na cegueira era que eu procurava evitar a dor, tanto emocional quanto física, como todos fazemos. Como foi aflitivo descobrir que tinha de estar disposto, caso realmente buscasse a verdade, a sentir dores que havia reprimido com sucesso durante anos!

E a recompensa por esse trabalho? Em primeiro lugar, descobrir a alegria que vem de se viver na verdade, sem Máscaras, sem fingimentos. Segundo, descobrir que, através do portal que é sentir a minha dor, vem uma vida de real prazer, e de não mais evitar a vida por medo de sentir a dor. E existem muitas outras recompensas além dessas; eis aqui uma das descrições do Guia:

“Existe um estado no qual você pode viver sem confusões dolorosas e torturante, no qual você pode atuar num nível de flexibilidade interior, de contentamento e segurança; no qual você é capaz de sentimentos profundos e de enorme prazer; no qual você tem a capacidade de encarar a vida como ela é, sem medo, e portanto é capaz de descobrir que a vida, mesmo com os seus problemas, é um desafio prazeroso”.13

Muitos caminhos espirituais ensinam que a maneira de lidar com as grandes e pequenas negatividades que todos nós temos é elevar-se acima delas, transcendê-las. Segundo essa ideia, parece que, se voltarmos sempre a nossa atenção para o verdadeiro, para o bom, para o belo, o Eu Inferior vai se desfazer. O Pathwork afirma que método da “elevação” não funciona; que ele representa um desejo ineficaz e uma negação, e conduz a repressão e a uma subsequente ação negativa não reconhecida. O Pathwork ensina que o Eu Inferior deve ser transformado e não transcendido.

As palestras da Parte 2 abordam esse tema de vários pontos de vista diferentes. O Guia enfatiza a importância de se descobrir a “corrente de negação” inconsciente que sabota os nossos desejos conscientes; descreve os desequilíbrios entre o Ego e o Eu Superior e o modo como eles precisam ser corrigidos; mostra como a postura de se entorpecer em relação à dor é uma das principais causas de negatividade pessoal; e como o fato de termos aprendido a ligar o princípio de prazer a ocorrências negativas perpetua o Eu Inferior. Nenhuma dessas palestras, tomada isoladamente, descreve de modo adequado o funcionamento do Eu Inferior; mas todas elas juntas devem proporcionar a você uma profunda compreensão da natureza do Eu Inferior, com um incentivo para transformá-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  Introdução                                                                                                                                ...