“O indivíduo que quer ter uma resposta para o problema do mal, tal como ele se apresenta hoje em dia, precisa, acima de tudo, de autoconhecimento; quer dizer, do conhecimento mais absoluto possível da sua própria totalidade. Ele deve conhecer profundamente quanto bem ele pode fazer e que crimes é capaz, e deve ficar alerta par não considerar uma coisa como real e a outra como ilusão. Ambas são elementos dentro da sua natureza e ambas devem vir à luz, caso queira – como deveria – viver sem se enganar ou se iludir”. C.G. Jung1
“Não há dúvida de que essa ideia de mentalidade sadia é inadequada como doutrina filosófica, porque os fatos maléficos que ela categoricamente se recusa a explicar são uma porção genuína da realidade; e eles podem ser, no fim das contas, a melhor chave para a compreensão do significado da vida e, possivelmente, os únicos que podem abrir os nosso olhos para os níveis mais profundos da verdade”. William James12
A Parte 1 deste
livro preparou o campo, ensinando-nos como observar a nós mesmos mais
cuidadosamente, a reconhecer a criança irracional e infeliz que vive dentro de
cada um de nós e perceber as Máscaras, enganos e falsas soluções que adotamos
em nossas tentativas de ficar numa posição de vantagem sobre a vida.
A Parte 2
concentra-se mais de perto no nosso mal pessoal enquanto fonte de toda a nossa
infelicidade.
Não é fácil encarar o nosso
próprio mal. Fazê-lo requer grande coragem e também grande compaixão em relação
a nós mesmos. Você pode ser tentado, em algum ponto no decorrer deste livro, a
abandonar a sua leitura e não voltar mais a ele. Quanto a mim, precisei de
muito tempo para realmente ingressar neste Pathwork e eu me lembro das muitas
vezes em que abandonei uma palestra, desanimado, inventando para mim mesmo
______________
11 C. Jung. Memories, Dreams, Reflections. Pantheon Books,
1973, p. 330. 12
William James. The Varieties of Religious Experience. Mentor, 1958. pp.
137-138. [As Variedades da Experiência Religiosa, Editora Cultrix, São Paulo,
1991.]
uma razão para não acreditar
naquilo. Descobri que olhar para as minhas próprias falhas e insuficiências, em
profundidade e extensão, não era um dos maiores prazeres da vida.
Foi difícil para mim passar da
teoria para o campo pessoal e prático. Eu acreditava na importância de amar
toda a humanidade; chegava mesmo a pregar essa atitude; e, contudo, descobri,
na prática, que eu costumava ser indiferente aos sofrimentos dos outros,
rancoroso com meus amigos, e por vezes era cruel até com a milha mulher e com
meus filhos. E além disso, eu frequentemente fazia vista grossa à dissonância e
falhava em enxergar a contradição entre as minhas crenças declaradas e o meu
verdadeiro comportamento.
Uma das razões pelas quais eu era
tentado a permanecer na cegueira era que eu procurava evitar a dor, tanto
emocional quanto física, como todos fazemos. Como foi aflitivo descobrir que
tinha de estar disposto, caso realmente buscasse a verdade, a sentir dores que
havia reprimido com sucesso durante anos!
E a recompensa por esse trabalho?
Em primeiro lugar, descobrir a alegria que vem de se viver na verdade, sem
Máscaras, sem fingimentos. Segundo, descobrir que, através do portal que é
sentir a minha dor, vem uma vida de real prazer, e de não mais evitar a vida
por medo de sentir a dor. E existem muitas outras recompensas além dessas; eis
aqui uma das descrições do Guia:
“Existe um
estado no qual você pode viver sem confusões dolorosas e torturante, no qual
você pode atuar num nível de flexibilidade interior, de contentamento e
segurança; no qual você é capaz de sentimentos profundos e de enorme prazer; no
qual você tem a capacidade de encarar a vida como ela é, sem medo, e portanto é
capaz de descobrir que a vida, mesmo com os seus problemas, é um desafio
prazeroso”.13
Muitos caminhos
espirituais ensinam que a maneira de lidar com as grandes e pequenas
negatividades que todos nós temos é elevar-se acima delas, transcendê-las.
Segundo essa ideia, parece que, se voltarmos sempre a nossa atenção para o
verdadeiro, para o bom, para o belo, o Eu Inferior vai se desfazer. O Pathwork
afirma que método da “elevação” não funciona; que ele representa um desejo
ineficaz e uma negação, e conduz a repressão e a uma subsequente ação negativa
não reconhecida. O Pathwork ensina que o Eu Inferior deve ser transformado e
não transcendido.
As palestras da Parte 2 abordam
esse tema de vários pontos de vista diferentes. O Guia enfatiza a importância
de se descobrir a “corrente de negação” inconsciente que sabota os nossos
desejos conscientes; descreve os desequilíbrios entre o Ego e o Eu Superior e o
modo como eles precisam ser corrigidos; mostra como a postura de se entorpecer
em relação à dor é uma das principais causas de negatividade pessoal; e como o
fato de termos aprendido a ligar o princípio de prazer a ocorrências negativas
perpetua o Eu Inferior. Nenhuma dessas palestras, tomada isoladamente, descreve
de modo adequado o funcionamento do Eu Inferior; mas todas elas juntas devem
proporcionar a você uma profunda compreensão da natureza do Eu Inferior, com um
incentivo para transformá-lo.
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