- CAPÍTULO 19 - A AUTO-IDENTIFICAÇÃO E OS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA

 Saudações e bênçãos são derramadas sobre vocês em uma grande e magnífica força espiritual que todos podem partilhar e assimilar, na medida em que se abrirem verdadeiramente para ela com suas mentes e seus corações.

Nesta palestra discutirei a consciência partindo de uma abordagem nova e diferente. Talvez seja difícil para os seres humanos compreenderem que a consciência permeia todo o Universo. A consciência não depende apenas da personalidade de uma entidade. Ela permeia tudo o que existe. A mente humana está condicionada a pensar na consciência exclusivamente como um subproduto da personalidade, e mesmo a associá-la exclusivamente ao cérebro. Isso não é verdade. Ela não requer uma forma fixa. Cada partícula de matéria contém consciência, mas na matéria inanimada ela está solidificada, da mesma maneira que a energia está petrificada nos objetos inanimados. Consciência e energia não são a mesma coisa; são, porém, aspectos interdependentes da manifestação da vida. À medida que a evolução avança, essa condição estática diminui, enquanto a consciência e a energia se tornam cada vez mais vibrantes e móveis. A consciência ganha em percepção; a energia ganha mais poder criativo para mover-se e gerar formas.

Cada traço familiar à compreensão humana, cada atitude conhecida da Criação, cada aspecto da personalidade é apenas uma das muitas manifestações da consciência. Cada manifestação que ainda não está integrada ao todo precisa ser unificada e sintetizada num todo harmonioso.

E necessário um salto da sua imaginação para compreender o conceito que tento a transmitir aqui. Você pode imaginar por um momento que muitos traços familiares, que você sempre esteve certo só poderiam existir através de uma pessoa, não são a pessoa per se, mas partículas livremente flutuantes e uma consciência genérica? Não importa se esses traços são bons ou maus; por exemplo, tome o amor, a perseverança, a indolência, a preguiça, a impaciência, a gentileza, a teimosia ou a maldade. Todos eles precisam ser incorporados à personalidade que se manifesta. Só então podem ocorrer a purificação, a harmonização e o enriquecimento da consciência manifesta, criando as precondições para o processo evolutivo da consciência em unificação.

O ser humano é um conglomerado de vários aspectos da consciência. Alguns já estão purificados. Alguns sempre foram puros e, assim, fazem parte do indivíduo, formando um todo integrado. Outros aspectos da consciência são negativos e destrutivos e, portanto, separados, como apêndices. É tarefa de todo ser humano em cada encarnação sintetizar, unificar e assimilar esses vários aspectos da consciência. Se realmente tentar compreender o que digo aqui, você pode descobrir que essa é uma forma nova de explicar a existência humana. Naturalmente que isso não se aplica apenas ao nível da consciência humana, mas também a estados mais elevados de consciência, nos quais o conflito não é mais tão severo ou doloroso. A percepção ampliada dos estados mais elevados de consciência facilita incomensuravelmente o processo de síntese. A dificuldade humana é a falta generalizada de compreensão do que está acontecendo, a cegueira de muitas das pessoas envolvidas no conflito e as suas deliberadas tentativas de perpetuar a própria cegueira.

Na medida em que o conflito e a tensão existem numa personalidade, nessa mesma medida os vários aspectos de consciência vão estar em desacordo entre si. A entidade não se dá conta do significado do conflito e tenta identificar-se com um ou com vários desses aspectos, sem saber qual ou o que é o verdadeiro Eu. Onde está localizado? O que ele é? Como ele pode ser encontrado no labirinto dessa discórdia? Você é o que pode ser? Ou é o que há de pior? Ou será você os muitos aspectos que existem entre esses extremos? Quer as pessoas saibam ou não disso, esse conflito e essa busca incessantes existem. Quanto mais consciente o conflito, melhor, é claro. Qualquer caminho de autodesenvolvimento, mais cedo ou mais tarde, deve chegar a um acordo com essas questões — com o profundo problema da identidade.

É você quem integra

A identificação com qualquer dos aspectos acima mencionados é uma distorção humana. Você não é nem os seus traços negativos, nem a sua consciência superposta e autopunitiva, nem mesmo os seus traços positivos. Ainda que tenha conseguido integrar estes últimos na inteireza do seu ser, isso não é o mesmo que identificar-se com eles. É mais exato dizer que você é aquela parte de si mesmo que realizou essa integração, determinando, decidindo, agindo, pensando e querendo, de forma a poder absorver no seu Eu o que antes era um apêndice. Cada aspecto da consciência possui uma vontade própria, como sabem aqueles dentre vocês que trilham o Pathwork. Enquanto você estiver cegamente envolvido no conflito e, portanto, mergulhado nele, cada um desses vários aspectos por sua vez vai controlá-lo, porque o Eu Verdadeiro que poderia determinar a identificação de forma diferente ainda não encontrou o seu poder. O seu envolvimento cego o escraviza e desativa a sua energia criativa. A ausência do senso de identidade leva ao desespero.

Se a personalidade acredita cegamente que nada mais é senão seus aspectos destrutivos, ela fica envolvida em um tipo especial de batalha interior. Por um lado, haverá auto aniquilação, autopunição e um ódio violento de si mesmo como reação à percepção de que o seu Eu é apenas as suas partes negativas. Por outro lado, como pode você realmente querer abandonar esses traços negativos, ou mesmo encará-los e investigá-los verdadeiramente, quando acredita que eles são a única realidade do seu ser? Você é atirado de um lado para o outro entre as seguintes atitudes: “Eu tenho de continuar como sou, inalterado e sem avanços, pois esta é a minha única realidade e eu não quero deixar de existir”, e “Eu sou tão terrível, tão mau, tão desprezível que não tenho o direito de existir; portanto, preciso me castigar, deixando de existir”. Como esse conflito é doloroso demais para ser encarado quando se acredita que ele é real, toda a questão é posta de lado.

Então você leva uma vida à base do “como se”, ou do fingimento, a qual por sua vez desloca o seu senso de identidade para a Máscara. Você luta para não expor esse fingimento e também para não o abandonar, uma vez que a única alternativa é o doloroso conflito que acabei de descrever. Não é de admirar que os seres humanos possuam tanta resistência. E, ainda assim, que desperdício isso é, pois nada disso é a verdadeira realidade. Existe um Eu Verdadeiro que não corresponde nem aos seus aspectos negativos nem à sua férrea auto-aniquilação, nem ao fingimento que procura cobrir tudo. Sua principal tarefa é descobrir esse Eu Verdadeiro.

Antes que o Eu Universal possa manifestar-se plenamente em você, existe um aspecto dele que já está disponível neste momento e que você pode compreender imediatamente: O seu Eu consciente no que tem de melhor, tal como existe agora. Ele é uma manifestação presente limitada do seu ser espiritual, mas ele é realmente você; ele é o “eu” do qual você necessita para pôr ordem em toda a sua confusão. Essa consciência já manifestada existe em muitos domínios da sua vida, mas você não lhe dá atenção. Você ainda não o fez atuar nessa área de conflito na qual continua a ser cegamente controlado por uma falsa identidade, ou antes, pelas suas consequências.

O “eu” que é capaz de tomar uma decisão, por exemplo, de verdadeiramente encarar esse conflito e de observar suas várias expressões é o ser com o qual você pode se identificar com segurança. Na medida em que a personalidade desperta e adquire consciência de si mesma, essas decisões e escolhas de atitude são possíveis. No sentido oposto, na medida em que essas decisões e escolhas de atitude ocorrem, a consciência desperta e se expande. A consciência imediatamente disponível de cada ser humano vivo geralmente não é usada exatamente onde existem os maiores conflitos e sofrimentos. O alcance total do seu poder não é colocado a serviço desse conflito sobre a identidade. Quando a entidade começar a fazê-lo sistematicamente, uma importante mudança ocorrerá e um novo estágio de desenvolvimento será alcançado. Na medida em que o seu Eu consciente pode usar o conhecimento já existente da verdade, o seu poder já existente para praticar a boa vontade, a sua capacidade já existente para ser positivo, dedicado, leal, corajoso e perseverante na luta para encontrar a própria identidade, e a sua capacidade já existente de escolher com qual atitude deve lidar com o problema, exatamente nessa medida a sua consciência se expande e toma-se cada vez mais permeada de consciência espiritual.

A consciência espiritual não pode manifestar-se quando a sua consciência já existente não é plenamente usada na condução da sua vida. Quando você pode usar a consciência já existente, nova inspiração, novos campos de visão, compreensão e profunda sabedoria jorram das profundezas do seu ser. Mas enquanto você segue a linha de menor resistência, cedendo ao envolvimento cego, desistindo de encontrar a sua verdadeira identidade e conformando-se cegamente a uma existência frustrada, você continua preso à velha rotina de reagir por hábito e de justificá-lo levianamente. Você é complacente consigo mesmo e admite um pensamento compulsivo, negativo, desesperadamente circular, e a sua consciência presente não pode ser plenamente utilizada. Consequentemente, a consciência não tem possibilidade de se expandir, nem pode transmutar e sintetizar os aspectos negativos com os quais ela falsamente se identifica. Ela tampouco pode introduzir aspectos mais profundos do Eu Espiritual. Enquanto os valores existentes não são totalmente empregados, não existe a menor possibilidade de realização de valores adicionais. Essa é uma lei da vida que se aplica a todos os níveis do ser. É muito importante que se entenda isso, meus amigos.

Quando você se identifica com um ou mesmo com um grupo de aspectos e acredita que eles são você, você fica mergulhado neles. Logo no início, quando comecei a fazer estas palestras, usei os termos Eu Superior, Eu Inferior e Máscara Estes são termos bastante sucintos que comportam, naturalmente, muitas subdivisões e variações. Como uma estrutura conveniente de referência, pode-se classificar certos aspectos como pertencentes a uma ou a outra dessas três categorias básicas. A genuína vontade na direção do bem, não é preciso dizer, é uma expressão do Eu Superior. Mas existe também uma outra vontade para o bem que pode ser facilmente confundida com a outra, embora não seja absolutamente a mesma. É a vontade de ser bom em nome das aparências, em nome da negação dos aspectos inferiores, porque o Eu consciente, aquele que determina e escolhe, não assume o desafio de confrontar com os aspectos negativos. Os aspectos demoníacos, destrutivos, são obviamente uma expressão do Eu Inferior. Mas a gigantesca culpa que ameaça punir esses aspectos destrutivos com sua total aniquilação não é uma expressão do Eu Superior, embora possa facilmente fazer-se passar como tal. Na realidade, ela é mais destrutiva que a própria destrutividade. Ela nasce totalmente da falsa identificação a que já nos referimos. Se você acredita que você é o seu demônio, então não lhe resta escolha senão aniquilar-se; porém você tem medo do aniquilamento e, por isso, agarra-se ao demônio. Se, todavia, observar o demônio, você pode começar a se identificar com a parte de você que está observando. Você jamais deve se esquecer de que ninguém está totalmente envolvido nesse conflito; de outro modo, seria impossível elevar-se dele. Existem muitos aspectos do seu ser nos quais você usa o poder do seu pensamento criativo, nos quais você expande a sua mente e, assim, constrói criativamente. Mas agora nós estamos concentrados naquelas áreas nas quais você não é expansivo nem criativo.

Enquanto os seres humanos continuarem incapazes ou, antes, não estiverem dispostos a reconhecer seus aspectos destrutivos, inevitavelmente ficarão perdidos neles e, consequentemente, não poderão atingir uma autoidentificação adequada. Embora o seu desejo de esconder os aspectos destrutivos seja mais destrutivo do que seja o que for que você queira esconder, ao mesmo tempo ele indica que você quer se livrar dessa destrutividade. Assim, o desejo de escondê-la é uma mensagem do Eu Superior mal colocada, mal compreendida e mal interpretada. É um modo errado de aplicar e interpretar o anseio do Eu Espiritual. Agora, vamos analisar mais um pouco o modo como o Eu consciente pode ser mais ativado e utilizado, de forma que você possa expandi-lo e dar espaço para que a consciência espiritual se infiltre nele deficiências aparentemente vergonhosas, viram como o reconhecimento de traços negativos cria uma nova liberdade. Por que isso? A resposta óbvia é que o simples fato de você ter coragem e honestidade para fazê-lo é em si mesmo um fator de alívio e de libertação. Mas a coisa vai ainda além, meus amigos.

A mudança de identificação

Por meio do próprio ato de reconhecimento, ocorre uma sutil porém distinta mudança de identificação. Antes desse reconhecimento, você estava cego para alguns, ou mesmo para todos os seus aspectos destrutivos, e era, portanto, inevitavelmente controlado por eles, acreditando que eles eram você. Não lhe era possível sequer reconhecer esses aspectos inaceitáveis porque você se identificava com eles. Mas no momento em que reconhece o até agora inaceitável, você mesmo deixa de ser inaceitável; em vez disso, você começa a se identificar com aquela parte de si mesmo que pode decidir e decide fazer o reconhecimento. Então uma outra parte sua assume o controle, a qual pode fazer algo a respeito desses aspectos, mesmo que, para começar, possa apenas observar e tatear em busca de algum entendimento mais profundo da dinâmica subjacente. Identificar-se com as características desagradáveis é algo totalmente diferente de conseguir identificar essas características em você. No momento em que as identifica, você deixa de se identificar com elas e é por essa razão que o reconhecimento do pior que existe na sua personalidade, depois de ter lutado contra a resistência sempre presente para fazê-lo, tem um efeito tão libertador. E isso vai ficar mais fácil ainda se você puder fazer claramente essa distinção.

No momento em que você identificar, observar e articular claramente os seus aspectos destrutivos, você terá encontrado o seu Eu Verdadeiro, com o qual a sua identificação pode ocorrer com segurança. O Eu Verdadeiro pode fazer muitas coisas, e a primeira delas é o que você está fazendo agora: identificar, observar e articular. Agora não é mais necessário que você persiga a si mesmo tão impiedosamente com o seu ódio. Parece que não há como evitar que você se odeie enquanto negligencia esse processo importantíssimo de identificação com o Eu Verdadeiro, o qual tem também o poder de reconhecer e adotar novas atitudes, sem um autojulgamento devastador. É também possível julgar negativamente num espírito de verdade, mas são coisas completamente diferentes acreditar que aquilo que você julga é a única verdade do seu ser e perceber que a parte de você que pode reconhecer a presença da destrutividade tem outras opções e está mais próxima da sua realidade. Como é necessariamente diferente a sua atitude em relação a si mesmo quando percebe que é destino dos seres humanos carregar consigo aspectos negativos com o propósito de integrá-los e sintetizá-los. Isso abre espaço para a honestidade sem desespero. Que dignidade lhe é conferida pela consideração de que você assume essa importante tarefa em nome da evolução!

Ao chegar a esta vida, você traz consigo aspectos negativos, com os objetivos acima mencionados. Existem certas leis significativas que determinam quais aspectos você carrega. Cada ser humano cumpre alguma imensa tarefa na escala universal da evolução. Essa tarefa lhe confere grande dignidade, a qual é muito mais importante que o sofrimento momentâneo que resulta do fato de você não saber quem você é. Só quando, em primeiro lugar, assume responsabilidade pelos aspectos negativos é que você é capaz de chegar à maravilhosa constatação de que você não é esses aspectos, mas que carrega consigo algo pelo qual assumiu responsabilidade, com um propósito evolutivo. Só então pode vir o próximo passo: a integração.

Os quatro estágios de percepção

Recapitulemos os quatros estágios de percepção mencionados até aqui:

 (1) o estágio semiadormecido, no qual você não sabe quem é e no qual luta cegamente contra aquilo que odeia em si mesmo — consciente, semiconsciente ou inconscientemente;

 (2) o primeiro estágio do despertar, quando você já é capaz de reconhecer, observar e expressar aquilo de que não gosta; quando você é capaz de sentir que isso é apenas um aspecto de si mesmo e não a verdade final e secreta a seu próprio respeito;

(3) a percepção de que o "eu" ou Eu Verdadeiro que observa e articula também pode tomar novas decisões e fazer novas escolhas, e pode procurar por opções e possibilidades até então nem sequer sonhadas — não por um passe de mágica, mas experimentando atitudes que antes eram totalmente negadas e ignoradas. Alguns exemplos de novas atitudes são: estabelecer um objetivo positivo de autoaceitação sem perder o senso de proporção; procurar por novos caminhos; aprender com os erros e fracassos; recusar-se a desistir quando não obtém sucesso imediato; ter fé em potenciais desconhecidos que se podem manifestar-se à medida que essas novas posturas são adotadas pela consciência. A atitude de adotar os novos modos de percepção de que a sua consciência é capaz neste exato momento leva diretamente à

(4) compreensão, no seu devido tempo, daqueles aspectos antes negados e odiados, o que significa dissolução e integração. Simultaneamente, a consciência em constante expansão funde-se com uma parte maior da realidade espiritual, que agora pode desdobrar-se ainda mais. Esse é o significado da palavra purificação. Na medida em que você vive a sua vida dessa maneira, a consciência genérica que permeia o Universo toma-se menos fragmentada e mais unificada. Quando tiver assimilado o que eu disse aqui, você vai compreender vários fatos fundamentais. Antes de mais nada, você verá a tremenda importância que existe em reconhecer os traços demoníacos distorcidos. Você assumirá plena responsabilidade por eles, o que paradoxalmente irá libertá-lo da identificação com eles. Você irá conhecer o seu Eu Verdadeiro e reconhecer que esses aspectos negativos são apenas apêndices que você pode incorporar à medida que os dissolve. Sua energia e natureza não distorcida, básica, pode tomar-se parte da consciência que você manifesta.

Portanto, não importa quão indesejável possa ser a realidade, você pode lidar com ela, aceitá-la, explorá-la e deixar de ser atemorizado por ela. Essa capacidade de observar, articular, avaliar e escolher as melhores atitudes possíveis para lidar com o que é observado é o verdadeiro poder do seu Eu Verdadeiro tal como já existe neste exato momento. Liberdade, descoberta e conhecimento de si mesmo são os primeiros passos para perceber a grande consciência universal, divina, que existe em você. Enquanto isso não é feito, sua consciência espiritual mais íntima continua sendo um princípio, uma teoria e um potencial a ser materializado apenas no futuro. Você pode crer nela com o seu intelecto, mas não pode verdadeiramente concretizá-la dentro de si mesmo até que use a consciência já disponível agora, mas que é deixada em desuso onde quer que os seus assim chamados problemas existam. À medida que esses quatro estágios são reconhecidos e trabalhados da maneira que eu esbocei nesta palestra, sua mente consciente pode expandir-se o suficiente para absorver a sabedoria, a verdade, o amor, a força de sentimento, a capacidade de transcender opostos dolorosos, até então não manifestados e que irão enriquecer e reorientar a sua vida no sentido de criar mais alegria e prazer.

O terror desaparece

No momento em que ocorre a autoidentificação, desaparece um terror profundo e aparentemente infinito da alma humana. Em geral, esse terror não é sentido conscientemente; se quando você se encontra no limiar desses estados, fazendo a transição do estágio em que se encontra perdido, cego e confuso acerca do que e de quem você é, para aquele em que tem as primeiras fagulhas de identificação com o seu Eu Verdadeiro, é que você se dá conta do terror. Esse é um período de transição que pode durar semanas, ou muitas encarnações. Você pode esconder de si mesmo esse terror ou pode encará-lo de frente. Quanto mais você se dispõe a encará-lo, menos você demora para encontrar a saída. Ao escondê-lo, você não terá ganho nada, pois o terror deixará suas marcas indeléveis na sua vida. Os medos ocultos não são nem um átomo menos dolorosos e limitadores do que a verdadeira experiência do terror. De fato, ocorre justamente o oposto.

O terror existe apenas porque você não sabe que existe um você verdadeiro além daqueles aspectos que odeia. Por causa desse terror, você hesita bastante em identificar até aquilo que odeia. Enquanto lhe faltar coragem para inquirir se o seu medo é justificado ou não, você não será capaz de descobrir que ele não tem razão e que você é muito mais do que teme ser. A personalidade humana está com frequência a ponto de querer dar esse passo. Mas esse ponto parece um precipício; portanto, você hesita e prolonga uma falsa existência. Quando não se lida com esse ponto, o terror permanece na alma; então é negado e reprimido — e o terror reprimido tem outros efeitos adversos sobre a personalidade, que fica cada vez mais alienada do seu verdadeiro núcleo.

Quando finalmente toma plena decisão e assume o compromisso de encarar os seus medos, o terror desaparece e você se dá conta de que pode descobrir quem é realmente. Você também descobre que a vida é plena, rica, aberta e infinita. No momento em que você experimenta a si mesmo como aquela parte que observa, e não como aquela que é observada, não há mais necessidade de se aniquilar ou de limitar a sua identidade à Máscara fraudulenta, ao demônio odioso ou ao egoísta mesquinho. Assim, a identificação com o Eu Verdadeiro remove o terror do aniquilamento — não apenas da morte, mas do aniquilamento, o que é diferente.

 Vamos agora voltar à sua mente consciente tal como ela é neste momento. Ela se encontra agora no estágio em que é capaz de reconhecer e observar a personalidade, ou um aspecto dela, e tem muitas escolhas. A atitude que você escolher em relação aos traços não desenvolvidos e indesejáveis é a chave para expandir a sua consciência.

A expansão da consciência

Hoje em dia, ouve-se muita coisa sobre o conceito de expansão da consciência. Acredita-se com frequência que seja esse um processo mágico que ocorre de modo súbito. Não é assim. Para alcançar a verdadeira consciência espiritual é preciso, primeiro, prestar atenção ao material ainda não totalmente utilizado que existe no seu interior. Cada minuto de depressão ou ansiedade, e cada atitude desesperançada, ou de qualquer outro modo negativa, em relação a uma situação contém várias opções. Contudo, é necessário um ato de vontade interior da sua parte para despertar as suas forças adormecidas e torná-las disponíveis para você. Quando os potenciais já existentes estão sendo usados, um poder muito maior de consciência espiritual desdobra-se de forma gradual e orgânica.

As pessoas muitas vezes passam por várias práticas espirituais e esperam por uma manifestação miraculosa da consciência maior, enquanto a sua mente e o seu poder de raciocínio imediatos estão enredados nos mesmos sentimentos, atitudes e pensamentos negativos. Elas inevitavelmente ficarão decepcionadas ou se entregarão a fantasias. Nenhum exercício, esforço ou esperança de intervenção de uma graça exterior podem proporcionar-lhes uma verdadeira percepção e verdadeira manifestação do seu Eu Espiritual.

A energia criativa, inerente aos pensamentos e aos processos de pensamento, é totalmente subestimada pela maioria dos seres humanos. Por consequência, seus processos de criação e recriação da vida são negligenciados. Fazer uso desse poder criativo é um empreendimento desafiador e Você não é obrigado a reagir da maneira que o faz; você tem à sua disposição muitas possibilidades de pensamento, de como direcionar os seus pensamentos, processos de raciocínio e padrões de atitude para um novo objetivo. Na proporção em que a identificação com o seu Eu Verdadeiro não tenha ocorrido e em que você ainda esteja secretamente identificado com aqueles aspectos que mais odeia e que, portanto, mais resiste em observar, nessa mesma proporção a sua consciência é incapaz de lançar mão das suas opções e possibilidades.

Quando começar a se questionar a respeito de qual atitude escolher diante daquilo que você observa em si mesmo agora e que não lhe agrada, você terá feito uma das mais importantes descobertas nesta fase atual da sua evolução. Isso não requer uma atuação subliminar do mais profundo Eu Espiritual. Significa simplesmente usar o que você já tornou disponível no curso de séculos, de milênios de evolução.

Quais são as suas escolhas à medida que você observa as atitudes e intenções destrutivas que existem no seu interior? Você pode escolher entre ficar totalmente  desalentado e desesperançado — que é o que você tem feito até agora, sem que o perceba —, ou pode optar por pensar que é impossível ser diferente, e que você é isso mesmo e nada mais. Pode também optar por pensar que você tem o poder de efetuar uma mudança imediata e drástica. Essa última atitude não é mais positiva que a primeira. De vez que se encontra baseada em algo irreal, ela inevitavelmente leva à decepção e a uma negatividade aparentemente ainda mais justificada. Desesperança irreal e esperança mágica irreal são os dois extremos que levam a um círculo vicioso.

No entanto, será que não existem outras opções disponíveis? Não será possível, com a sua mente tal como se encontra agora, escolher outras modalidades? Diga: “É provável e previsível que eu esqueça e me veja novamente envolvido pela velha cegueira e seus reflexos condicionados. Mas isso não precisa me deter. Eu terei que lutar novamente e tatear sempre e sempre em busca da minha chave. Mas eu posso fazê-lo, e o farei, e assim, gradualmente, reunirei novas forças, novos recursos e novas energias. Não serei detido pelo fato de que a construção de um belo edifício demanda paciência. Não serei tão infantil a ponto de esperar que isso seja feito de uma só vez. Quero usar, e usarei, todos os meus poderes para fazê-lo, mas serei paciente e realista. Eu gostaria de ser guiado pelos poderes espirituais que existem em mim, mas, se eu ainda não posso perceber a orientação porque no inicio dessa empresa minhas energias são muito densas e minha consciência muito nublada, vou confiar, esperar e perseverar. Quero dar o melhor de mim à aventura de viver. Tentarei sempre identificar, observar e articular aquilo de que não gosto, sem que me identifique com ele. Procurarei novas maneiras de compreender tudo isso, até que algum dia eu cresça o bastante para encontrar a saída”.

Uma atitude como essa está à sua disposição. Não é mágica; é uma escolha imediatamente disponível. Você pode começar agora com a atitude que gostaria de observar e identificar, em vez de ficar mergulhado naquilo que até agora você nem sequer queria reconhecer. Essas e outras atitudes e opções existem em todos os dilemas e dificuldades possíveis. Existe em você um conhecimento que pode ser aplicado ao que observa. Caso você use esse conhecimento disponível, você expande o conhecimento bem como a amplitude das suas atitudes e sentimentos.

Quanto mais você o fizer, mais a consciência infinitamente maior e ilimitada do seu até agora submerso Eu Espiritual vai se integrar à sua mente consciente, e ele vai tornar-se você. Como eu já havia dito, isso acontece com mais facilidade num diálogo tríplice: o diálogo do Eu consciente com os aspectos demoníacos, o diálogo da mente consciente com o Eu-Divino e o diálogo entre o Eu-Divino e o Eu demoníaco ou Eu Inferior. Em todas essas três possibilidades, ambos os lados falam e ouvem alternadamente, como em qualquer conversa significativa. Portanto, quanto mais você percebe e observa dessa maneira, mais fácil vai ficar o próximo salto: a tomada de consciência da sua verdadeira identidade espiritual. Então você saberá realmente que essa incrível, linda, ilimitada consciência é o verdadeiro você, onde reside todo o poder e onde não há nada a temer.

Meus amigos, esta palestra, como todas, requer um trabalho diligente do começo ao fim. Muito do material aqui apresentado não pode ser absorvido de pronto, por ser de difícil compreensão. Ele exige concentração da mente e boa vontade, e também o contato, através da meditação, com reinos mais elevados de realidade e poder espirituais para ajudá-los a absorver e pôr em prática o que eu disse.

Sejam abençoados, fiquem em paz, fiquem com Deus.

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  Introdução                                                                                                                                ...