- CAPÍTULO 16 - POSITIVIDADE E NEGATIVIDADE: UMA ÚNICA CORRENTE DE ENERGIA

 Saudações, meus queridos amigos. Possam as bênçãos da inteligência criadora, que existe ao redor de vocês e dentro de vocês, fortalecê-los e esclarecê-los para que estas palavras ecoem em vocês e sirvam como material para ajudá-los a continuar com sucesso o caminho para encontrar o Eu Verdadeiro.

Muitos de vocês descobriram agora dentro de si mesmos uma camada na qual estão face a face com a sua própria destrutividade. E eu não me refiro apenas à descoberta de uma mera emoção, ao reconhecimento de uma hostilidade momentânea; eu quero dizer, uma destrutividade geral, penetrante, essencial e duradoura que tem estado adormecida o tempo todo e simplesmente encoberta. Você está agora num estado no qual pode se observar pensando, sentindo e agindo destrutivamente, enquanto antes estava, na melhor das hipóteses, apenas teoricamente consciente dessa destrutividade, e só podia imaginar sua presença pelas manifestações desagradáveis na sua vida. Agora você está enfrentando o problema de como sair dessa situação.

Você está confuso porque não gosta de ser assim. Você até sabe e compreende muito profundamente que essa condição é totalmente inútil e sem sentido, que a destrutividade não serve a nenhum bom propósito. Contudo, você se vê na situação de ser incapaz de abrir mão dessa destrutividade.

A natureza da destrutividade

Não é fácil alcançar uma consciência na qual você pode se ver a si mesmo pensando, sentindo e agindo destrutivamente; na qual está, além disso, consciente de que isso causa a sua infelicidade, mas que é ainda totalmente incapaz de abandonar essa maneira de ser. Eu diria que essa é uma grande medida de sucesso, se é que essa palavra pode ser usada: estar consciente de que estamos nessa situação. Mas, para realizar a segunda parte dessa fase da sua evolução, isto é, para abandonar a destrutividade, a natureza dessa destrutividade tem que ser bem compreendida.

Todo o problema humano relativo ao conceito dualista da vida tem muito a ver com a falta de compreensão da humanidade a respeito de sua própria destrutividade. Os seres humanos estão atrelados ao pensamento de que uma força destrutiva tem que ser algo oposto a uma força construtiva. Mesmo aqueles dentre vocês que teoricamente sabem muito bem que não existe essa divisão tendem a pensar: “Aqui estão os meus sentimentos negativos. Eu gostaria de ter sentimentos positivos no seu lugar”. Ou você pensa que, depois de terem sido dissipadas as emoções negativas, um novo conjunto de sentimentos surgirá como se esses novos sentimentos consistissem de uma energia ou de um material psíquico inteiramente diferente. Quando você fala das duas forças, dos dois grupos de sentimentos, isso é uma mera figura de linguagem, uma maneira de expressar dois tipos diferentes de experiências. Contudo, essa figura de linguagem é uma expressão da concepção errônea, dualista, que opera dentro de toda a consciência humana.

Na realidade, existe apenas um poder. É muito importante que se entenda isso, meus amigos, particularmente quando é o momento de lidar com a sua própria destrutividade e negatividade. Existe apenas uma força vital que energiza cada expressão da vida. Essa mesma força vital pode fluir de forma construtiva, positiva, afirmativa, ou pode tornar-se uma corrente destrutiva, cheia de negação. Para entender esse processo de modo específico e pessoal, discutirei o mesmo do ponto de vista de um indivíduo analisando a sua própria vida. Eu não vou pronunciar aqui um discurso sobre princípios espirituais gerais; vou apenas tocar neles quando necessário para a compreensão de todo esse tópico. Primeiro, repetirei que a força vital enquanto tal, quando não adulterada, é totalmente positiva e afirmativa. Portanto, ela produz total prazer para qualquer consciência viva, sensível ou perceptiva. Quanto mais desenvolvida essa consciência, mais pleno o prazer que ela pode experimentar a partir e através da pura força vital, em qualquer modo que esta possa achar expressão. Todo o organismo vivo – um bebê recém-nascido, uma planta, uma célula – tende a realizar essa potencialidade da natureza. Quando esse fluxo natural sofre interferência, a corrente energética em busca de expressão é bloqueada e impedida de fluir para o seu destino; o fluir natural é barrado por dificuldades. Estas podem ser internas ou externas – ou ambas. Quando crianças pequenas encontram no ambiente externo condições que proíbem o fluxo natural da força vital, a extensão do dano depende de quão livres elas estejam de bloqueios internos. Se existem bloqueios internos que jazem latentes, porque não foram eliminados em existências anteriores, as condições externas negativas criarão um forte bloqueio, congelando a corrente de energia fluente e petrificando-a numa massa psíquica e endurecida. Quando não existem bloqueios anteriores, as condições negativas externas criarão apenas uma perturbação temporária no fluxo de força vital. Os problemas persistentes que as pessoas tem na vida resultam dessa energia bloqueada. O desbloqueio só pode ocorrer quando a relação entre as condições negativas internas e externas, responsáveis pelo bloqueio, é plenamente compreendida. As faculdades do Eu/Ego imaturo da criança tornam impossível que ela lide adequadamente com a condição negativa. Uma condição negativa externa pode, portanto, jamais ser totalmente responsável pela condensação de energia e pela paralisia do fluxo vital. Ela só pode ser o fator ativador final, trazendo à cena a condição negativa interior, que se encontrava em estado latente.

O local da alma no qual as condições negativas externas ativam a condição negativa interna latente é o mesmo ponto no qual a força vital positiva torna-se uma força destrutiva não vital. Os sentimentos passam de amor para medo e hostilidade; de confiança para desconfiança, e assim por diante. Finalmente, o poder negativo torna-se tão insuportável que os sentimentos ligados a ele ficam completamente entorpecidos.

Quando seres humanos estão num caminho de autorreconhecimento, é muito importante que eles compreendam especificamente que uma emoção negativa não pode ser substituída por uma emoção positiva diferente. Ela deve ser reconvertida ao seu estado original. Como fazer isso, meus amigos? Cada pessoa deve encontrar o modo de reconverter-se esse fluxo de energia ao seu estado original. Cada manifestação desagradável, problemática ou geradora de ansiedade experimentada por vocês é o resultado da repetição do evento original desta vida, no qual a força positiva do prazer foi bloqueada, impedida ou proibida e, portanto, transformou-se em desprazer.

O prazer da negatividade

Agora, não se pode afirmar com exatidão que o prazer está totalmente ausente desse desprazer. Quando você está bloqueado no seu esforço para superar a negatividade, é extremamente importante sentir profundamente em si mesmo o aspecto prazeroso dessa negatividade, sem se importar com quanta dor você sente na sua consciência superficial. A dificuldade em se ver livre da destrutividade é, naturalmente, devida também a outras razoes que você já verificou: a vontade de punir ou de usar a corrente de força que diz: “Se eu for suficientemente infeliz, isso mostrará ao mundo que é errado não me dar aquilo que eu quero”. Mas essas razões não constituem a dificuldade mais profunda quanto à dissolução da negatividade. É preciso sentir intuitivamente, e então sentir muito especificamente, que na sua negatividade, paradoxalmente, tanto o prazer quanto o desprazer estão presentes ao mesmo tempo.

Isso é muito compreensível quando você olha para o processo nos termos da explicação que eu dei. O princípio de prazer não pode jamais estar completamente ausente, mesmo que ele apareça na sua forma distorcida. Seus ingredientes básicos sempre permanecem, não importa quão difícil seja detectar a natureza da corrente vital. É precisamente por isso que a negatividade parece tão difícil de transformar. Seu aspecto de prazer sempre existe. Quando se compreende que apenas a forma de expressão tem que ser modificada, de modo que a corrente vital idêntica possa reconverter-se, a negatividade pode ser deixada para trás. Quando você tiver entendido que os aspectos dolorosos da expressão negativa podem ser abandonadas, enquanto os aspectos prazerosos ficam mais fortes, a negatividade pode se transformar. Quando você entender que um novo conjunto de emoções não virá do nada, mas que a mesma corrente vai se manifestar de forma diferente, então o que parece difícil vai acontecer por si mesmo.

Quando você meditar sobre isso, vai se tornar possível para você ficar consciente do prazer ligado à sua destrutividade. Em lugar de se sentir culpado em relação a esse prazer e, consequentemente, reprimi-lo, você estará em posição de permitir que a corrente destrutiva se desdobre, expresse e reconverta a si mesma. A ligação ou conexão entre prazer e destrutividade tem sido um fator ativo na culpa generalizada que os seres humanos sentem a respeito de todas as experiências de prazer. Isso, por sua vê, pode ser responsabilizado pelo entorpecimento de todos os sentimentos. Pois, como pode o prazer ficar livre da destrutividade se ambos são considerados igualmente errados? E, contudo, os seres humanos não podem viver sem prazer são uma e a mesma coisa. Quando o prazer está ligado à destrutividade, esta não pode ser abandonada; é a de que se está abandonando a própria vida. Isso gera uma situação na qual, no nível da sua vida interior, você se apega igualmente ao prazer e a destrutividade, sentindo-se culpado e ao mesmo tempo temeroso de ambos. Num nível consciente mais superficial, você está entorpecido e pouco ou nada sente.

Não é suficiente saber disso de forma genérica; o conhecimento tem que ser trazido de volta para as suas circunstâncias específicas. Qual é, neste momento, a manifestação externa que lhe causa angústia contínua? Ela não é uma experiência momentânea causada por uma situação passageira, que então se dissolve quando novas situações surgem. Não, esses são os problemas na sua vida com os quais você não pode chegar a um acordo. Para resolver verdadeiramente essas condições que chamamos de imagens e que recriam para sempre condições semelhantes e novas situações, a energia bloqueada e paralisada tem que se tornar fluida novamente. E isso só pode ocorre quando você começa, como primeiro passo nesta fase particular do seu desenvolvimento, a identificar o aspecto de prazer na sua destrutividade. Você tem que sentir o prazer ligado ao desprazer do problema.

A energia sexual bloqueada

Uma vez que a corrente de prazer de energia vital se manifesta primariamente em você naquilo que chamamos de sexualidade, a energia destrutiva e bloqueada contém energia sexual bloqueada. Segue-se que os problemas externos devem ser simbólicos ou representativos de como a energia sexual foi a princípio bloqueada por condições externas. A dor desse bloqueio causou a destrutividade que, ao mesmo tempo, contém aspectos do princípio do prazer. Portanto, cada situação difícil na vida representa uma fixação sexual na psique mais profunda da qual você foge por temê-la. Por não enfrentar esse fato e continuar a viver com ele, as condições externas tornam-se insolúveis; você fica mais e mais alienado da causa interna naquele ponto onde ela é ainda vivificada pelo aspecto de prazer.

Você, que segue este Trabalho do Caminho” , deve portanto voltar ao seu interior, por assim dizer, e permitir a si mesmo sentir o prazer da destrutividade. Só então você vai realmente compreender a situação dolorosa exterior que, à primeira vista, pode não ter nada a ver com a sua vida emocional ou com quaisquer problemas sexuais. Eu tenho dito, com frequência, que nas suas fantasias sexuais mais secretas jazem os segredos dos seus conflitos, bem como a chave para a sua solução. Quando encontrar o paralelo entre o problema externo e a corrente de prazer na sua sexualidade, você será capaz de fluidificar novamente a energia congelada. Isso vai torná-lo capaz de dissolver a negatividade e a destrutividade, e isso, naturalmente, é essencial para a eliminação do problema exterior na sua vida.

Sua incapacidade em sentir o prazer no desprazer é o resultado da sua luta contra si mesmo e do fato de não gostar de si mesmo por causa dessa distorção específica. Consequentemente, existe negação, repressão e mais alienação do núcleo onde essas condições ainda podem ser experimentadas e gradualmente alteradas. Todo problema tem, necessariamente, esse núcleo onde a corrente original foi bloqueada e está portanto distorcida, e onde a dicotomia prazer/desprazer produz uma fixação inconsciente da experiência de prazer numa situação negativa. Você então luta contra isso por uma série de razões, com a consequência adicional de que os problemas externos começam a formar-se e, então, sempre se repetem. Eles não podem ser superados até que esse núcleo seja experimentado. Isso se aplica a todos os problemas, quer pareçam ou não ter algo a ver com a sexualidade.

Tudo isso pode parecer muito teórico se você ainda estiver longe desse ponto, mas no futuro ele pode ser um divisor de águas na sua vida interior e, consequentemente, na sua exterior, depois do qual não será mais um problema abandonar a destrutividade, pois ninguém pode ser bem-sucedido forçando-a para longe com a sua vontade superficial, sem uma profunda compreensão das forças internas que constituem essa mesma destrutividade. Sim, a vontade deve, é claro, estar presente em princípio, mas ao mesmo tempo, como eu disse em tantos outros contextos, a vontade exterior só deve ser usada para o propósito de liberar os poderes interiores que tornam o desenvolvimento um processo natural, orgânico e harmonioso. Assim, a destrutividade dissolve-se a si mesma. Ela não é atirada fora deliberadamente como um manto, nem os sentimentos construtivos são produzidos por um ato voluntário semelhante. Esse é um processo evolutivo dentro de você, exatamente aqui e agora.

Alguma pergunta?

PERGUNTA: O que torna a percepção do prazer tão única e específica em relação ao desprazer? RESPOSTA: É sabido que você teme o prazer quando ainda está cheio de conflitos e problemas cuja natureza você não compreende. Qualquer um de vocês que estão no Trabalho do Caminho”  que vá fundo o bastante para sondar as suas reações descobre este fato espantoso: vocês têm mais medo do prazer do que da dor. Vocês que não verificaram esse fato em si mesmos podem achar isso inacreditável, pois conscientemente se ressentem do desprazer não pode realmente ser desejado.

 Você não pode resolver essa dicotomia, a menos que mergulhe fundo dentro dos seus processos psíquicos para sentir prazer no desprazer.

O prazer total é temido por uma razão muito importante: o prazer supremo da corrente cósmica de energia parece inevitavelmente insuportável, assustador, esmagador, e quase aniquilador quando a personalidade ainda está ligada à negatividade e à destrutividade. Em outras palavras, na medida em que a personalidade comprometeu sua integridade e ainda existe impureza, desonestidade, engano e malícia na psique, o puro prazer necessariamente será rejeitado. Portanto, a forma negativa é o único meio pela qual a entidade pode experimentar pelo menos um pouco de prazer. Quando você, que está nesse Trabalho do Caminho”, descobre que bem no fundo de si mesmo tem o prazer como um perigo, deve perguntar-se: “Em que ponto eu não sou honesto com a vida ou comigo mesmo? Onde eu trapaceio? Onde eu prejudico a minha integridade?” Essas áreas mostram precisamente onde, porque e em que grau o puro prazer tem que ser rejeitado. Quando você comprova para si mesmo que teme e rejeita o prazer e que não é a vida que o priva dele, você pode fazer algo a respeito, fazendo a si mesmo as perguntas pertinentes e, depois, identificando os elementos de bloqueio. Essa é a saída. Quando descobre onde você viola o seu próprio senso de decência e honestidade, você pode destrancar a porta que fechou seu acesso à transformação do prazer negativo e o forçou a rejeitar o prazer que não é estorvado pela dor.

Possa o seu entendimento crescer de forma que você sinta as suas próprias distorções e o modo como elas são uma valiosa energia vital que pode ser ativada da maneira específica que mostrei aqui.

Abençoados sejam, cada um de vocês; recebam a força e o poder que fluem na sua direção. Façam uso deles, trilhem esse Pathwork para o próprio núcleo do seu Ser Interior. Fiquem com Deus.

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