Saudações, queridos amigos. Deus abençoe cada um de vocês. Esta hora é bendita. Eu gostaria de discutir três importantes atributos divinos: amor, poder e serenidade (=sabedoria), e como eles se manifestam em suas formas distorcidas. Na pessoa saudável, esses três princípios operam lado a lado, em perfeita harmonia, alternando-se de acordo com cada situação específica. Eles se complementam e se fortalecem uns aos outros. É mantida a flexibilidade entre eles, de forma que nenhum desses três atributos jamais pode contradizer a um outro ou inferir com ele.
Contudo, na personalidade
distorcida eles se excluem mutuamente. Um contradiz o outro, de forma a criar
conflito. Isso acontece porque um desses atributos é inconscientemente
escolhido pela pessoa para ser usado como solução para os problemas da vida.
As atitudes de submissão, de
agressividade e de retraimento são as distorções do amor, do poder e da
serenidade. Agora eu gostaria de falar com detalhes sobre o modo como elas
operam na psique, como formam uma suposta solução e como a atitude cria padrões
dogmáticos, rígidos, que são então incorporados à autoimagem idealizada.
Quando criança, o ser humano
encontra decepção, desamparo e rejeição – reais e imaginários. Esses
sentimentos criam insegurança e falta de autoconfiança, que a pessoa tenta
superar, infelizmente sempre de maneira errada. Para dominar as dificuldades
criadas, não apenas na infância como também mais tarde na vida como consequência
de se recorrer a soluções erradas, as pessoas se envolvem cada vez mais em um
círculo vicioso. Sem se dar de que a mesma “solução” que elas assumem traz
problemas e decepções, tendem de forma ainda mais árdua levar até o fim aquilo
que consideram como sendo a solução. Quanto menos são capazes de fazê-lo, mais
duvidam de si mesmas; e quanto mais duvidam de si mesmas, mais se perdem na
solução equivocada.
Amor/submissão
Uma dessas soluções falsas é o
amor. O sentimento é: “Se eu fosse amado, tudo estaria bem”. Em outras
palavras, espera-se que o amor resolva todos os problemas. Desnecessário dizer
que isso não é verdade, especialmente quando se considera a maneira como se
espera que esse amor seja dado. Na realidade, uma pessoa perturbada que adota
essa solução dificilmente é capaz de experimentar amor. Para receber amor, uma
pessoa assim desenvolve várias tendências e padrões de comportamento interior e
exterior e de reação, típicos da personalidade, que tende a tornar o indivíduo
mais fraco e indefeso do que é.
Assumindo mais e mais
características de auto obliteração para obter amor e proteção, o que por si
mesmo parece prometer segurança contra o aniquilamento, a pessoa atende às
demandas reais ou imaginárias dos outros, encolhendo-se e rastejando ao ponto
de vender a alma para receber aprovação, simpatia, auxílio e amor.
Inconscientemente, essas pessoas creem que a autoafirmação e o ato de defender
os seus desejos e necessidades equivalem a privar-se do único valor da vida:
aquele de ser cuidado como uma criança – não necessariamente em questões
financeiras, mas emocionalmente. Essas pessoas alegam uma imperfeição, um
desamparo, uma submissão que não são genuínos. Elas usam essas falsas fraquezas
como uma arma e um meio de finalmente vencer e dominar a vida.
Para não expor essa falsidade,
essas tendências ficam incorporadas na autoimagem idealizada. Assim as pessoas
são bem-sucedidas em acreditar que todas essas tendências são iguais da sua
bondade, santidade, do seu altruísmo. Quando elas se “sacrificam” para
finalmente possuir um forte e amoroso protetor, ficam orgulhosas da sua
capacidade de sacrifício altruísta; orgulhosas da sua “modéstia”, elas nunca
alegam conhecimento, realização, força. Dessa forma esperam forçar os outros a
sentir-se amorosos e protetores em relação a elas.
Existem muitíssimos aspetos dessa
pretensa solução. Eles têm de ser persistentemente descobertos no trabalho que
você está fazendo. Não é fácil detectá-las de vez que essas atitudes estão
profundamente arraigadas e parecem ter se tornado uma parte da personalidade
“amorosa” da pessoa. Além do mais, elas podem ser frequentemente afastadas,
através de racionalização, por necessidades aparentemente reais. Por último,
elas são sempre contrariadas pelas tendências opostas ou por outras soluções
falsas, que também sempre estão presentes na alma, embora não sejam tão
predominantes. Da mesma forma, os outros tipos que usam soluções falsas
encontrarão aspecto de submissão em sua psique. A extensão em que essa pretensa
solução é predominante varia de pessoa para pessoa, assim como a intensidade
com que ela é contrariada por outras soluções.
A pessoa com a atitude
predominantemente submissa vai ter um pouco mais de dificuldade para descobrir
o orgulho que prevalece em todas essas atitudes. O orgulho nos outros tipos
está bem na superfície; estes podem ficar orgulhosos do seu orgulho, podem ter
orgulho da sua agressividade e cinismo; mas, uma vez que o tenham visto, ele
não pode mais ser disfarçado de “amor”, de “modéstia”, ou de qualquer outra
atitude “virtuosa”.
O tipo submisso terá que olhar
com olhos muito perspicazes para essas tendências para descobrir como ele as
idealiza. Pode existir uma reação de crítica e desprezo distantes por todas as
pessoas que se autoafirmam, mesmo que seja apenas uma autoafirmação saudável e
não uma agressividade que surja de uma distorção do poder. Esse tipo de
personalidade pode simultaneamente também admitir e invejar a agressão dos
outros, ainda que a despreze, apesar de se sentir superior em “desenvolvimento
espiritual” ou “padrões éticos”, e pode dizer ou pensar: “Se eu pudesse ser
assim, conseguiria mais a vida”. Ao fazê-lo, contudo, uma pessoa desse tipo
enfatiza a “bondade” que a impede de ter o que as pessoas “menos boas”obtêm.
O orgulho do martírio e do auto
sacrifício torna difícil a descoberta do que está por baixo da superfície. Só
uma visão verdadeira da real natureza desses motivos revelará o egoísmo e o
egocentrismo fundamentais que prevalecem nessa como nas outras atitudes ligadas
a soluções falsas. Orgulho, hipocrisia e farsa estão presentes em todas elas,
quando incorporados à autoimagem idealizada. O tipo submisso terá mais
dificuldade em descobrir o orgulho, enquanto o tipo agressivo achará mais
difícil descobrir o fingimento, pois o segundo pretende uma “honestidade” em
busca da sua própria vantagem.
A necessidade de amor protetor
tem uma certa validade para a criança, mas se for mantida na idade adulta ela
não mais vale. Nessa busca de ser amado existe um elemento de “eu tenho que ser
amado para que possa acreditar no meu próprio valor. Então eu posso estar
disposto a corresponder a esse amor”. É, no fim das contas, um desejo
autocentrado e unilateral. Os efeitos de toda essa atitude são graves.
Essa necessidade de amor e
dependência realmente o torna indefeso. Você não cultiva em si mesmo a
faculdade de se manter sobre as próprias pernas. Em lugar disso você usa toda a
força da sua psique para corresponder a esse ideal, de forma a obrigar os
outros a atender às suas necessidades. Em outras palavras, você cede para que
outros cedam a você; você se submete para dominar, embora tal dominação deva
sempre manifestar-se em desamparo brando e fraco.
Não é de se estranhar que uma
pessoa engolfada nessa atitude torna-se separada do seu Eu Verdadeiro. Este tem
que ser negado, pois a sua afirmação parece grosseira e agressiva. Isso tem que
ser evitado a todo custo. Mas a indignidade infligida ao indivíduo por tal autonegação
tem o seu efeito no desespero por si mesmo.
Como isso é doloroso, além de ser
contraditório em relação à auto-imagem idealizada, que recomenda o esquecimento
de si mesmo como virtude suprema, esses sentimentos têm de ser projetados nos
outros. Esses sentimentos de desprezo e o ressentimento pelos outros, por sua
vez, contradizem os padrões do Eu Idealizado. Consequentemente, eles também têm
de ser escondido. Essa dupla ocultação causa inversão e tem sérias repercussões
na personalidade, manifestando-se também em todo o tipo de sintomas físicos.
Raiva, fúria, vergonha,
frustração, desprezo e ódio por si mesmo existem por duas razões. Primeiro,
eles existem como resultado da negação do Eu Verdadeiro e pela indignidade de
ser impedido de ser o que realmente se é. Acredita-se então que o mundo impede
a autorrealização e abusa e tira vantagem de sua “bondade”. Isso é pura e simples
projeção.
Em segundo lugar, esses
sentimentos existem porque a pessoa é incapaz de se adequar aos ditames do seu
próprio Eu Idealizado “amoroso”, segundo os quais nunca se deve sentir
ressentimento, desprezo, desagrado, vergonha; jamais se deve acusar ou achar
defeitos nos outros, e assim por diante. Como resultado, não é tão “bom” quando
se deveria ser.
Num esboço bastante breve,
esse é o quadro de uma pessoa que escolheu o “amor”, com todas as suas
subdivisões de compaixão, compreensão, perdão, união, comunicação,
fraternidade, sacrifício, como uma solução rígida, unilateral. Essa é a
distorção do atributo divino do amor. Uma autoimagem idealizada desse tipo terá
os ditames e padrões correspondentes. A pessoa tem sempre que ficar na sombra,
nunca se afirmar, sempre ceder, nunca achar defeitos nos outros, amar a todos,
jamais reconhecer seus verdadeiros valores e realizações, e assim por diante.
Na superfície essa parece, na
verdade, uma figura muito santa, mas, meus amigos, isso é apenas uma caricatura
do amor, compreensão, perdão ou compaixão verdadeiros. O veneno dos motivos
subjacentes distorce e destrói aquilo que realmente poderia ser genuíno.
Poder/agressividade
Na segunda categoria está aquele
que busca o poder. Essa pessoa pensa que poder e independência em relação aos
outros resolverão todos os problemas. Esse tipo, assim como o outro, pode
apresentar muitas variações e subdivisões. Tal atitude pode ser predominante ou
subordinada a uma ou ambas das outras.
Aqui, a criança em crescimento
acredita que a única maneira de ficar segura é tornando-se tão forte e
invulnerável, tão independente e sem emoções que nada nem ninguém pode tocá-la.
O próximo passo é cortar todas as emoções humanas. Quando, porém, ela vem à
luz, a criança se sente profundamente envergonhada de qualquer emoção e a
considera uma fraqueza, seja ela real ou imaginária.
O amor e a bondade também seria
considerados fraqueza e hipocrisia, não apenas nas suas formas distorcidas,
como acontece no tipo submisso, mas também na sua forma verdadeira e saudável.
Calor, afeição, comunicação, altruísmo: tudo isso é desprezível e sempre que
suspeita da existência de um impulso dessa natureza, o tipo agressivo sente-se
tão profundamente envergonhado quanto o tipo submisso diante do ressentimento e
das qualidades auto afirmativas que ficam por baixo.
O impulso de poder e
agressividade pode manifestar-se sob muitas formas e em muitas áreas da vida e
da personalidade. Ele pode ser dirigido principalmente à realização, quanto a
pessoa com impulso de poder vai competir e tentar ser melhor que todos os
outros. Qualquer competição será encarada como uma injúria à elevada posição
especial necessária para essa solução particular.
Ou então pode ser uma atitude
mais geral e menos definida em todas as relações humanas da pessoa. Cultivando
artificialmente uma dureza que não é mais real que a doçura desamparada da
pessoa submissa, o tipo do poder é igualmente desonesto e hipócrita, porque
essa pessoa também precisa de calor e afeição humanas, e sem isso sofre com o
isolamento. Ao não admitir o sofrimento, esse tipo é tão desonesto quanto os
outros. Essa auto-imagem idealizada em particular dita padrões de perfeição
divina em relação à independência e ao poder.
Acreditando em completa autossuficiência,
essa pessoa não sente necessidade de ninguém, ao contrário dos outros meros
seres humanos, que precisam um dos outros. Tampouco são o amor, a amizade ou a
ajuda reconhecidos como importantes. Nessa imagem, o orgulho é muito óbvio, mas
a desonestidade será mais difícil de detectar, porque um tipo assim a esconde
sob a racionalização de que hipócrita é o tipo “bonzinho”.
Uma vez que essa auto-imagem
idealizada exige poder e independência em relação aos sentimentos e emoções
humanas, tais como nenhum ser humano pode ter, é constantemente provado que a
pessoa não pode corresponder a esse Eu ideal. Esse “fracasso” atira a pessoa em
crises de depressão e desprezo por si próprio que, novamente, têm de ser
projetados nos outros para que ele possa permanecer inconsciente da dor e da
autopunição.
A incapacidade de ser a sua autoestima
idealizada sempre causa esse efeito. Quando se analisa de perto as exigências
de qualquer autoimagem idealizada, sempre se descobre que a onipotência está
contida nela. Contudo, essas reações emocionais são tão sutis e esquivas e tão
encobertas pelo conhecimento racional que é preciso um exame muito persistente
de certos sentimentos, em certas ocasiões, para obter consciência de tudo isso.
Só o trabalho que você está fazendo neste Pathwork pode revelar como qualquer
dessas atitudes existe em você. Elas são, naturalmente, mais fáceis de
descobrir quando um tipo é bastante
dominante. Na maioria dos casos, contudo, as atitudes estão mais ocultas e
estão em conflito com atitudes dos outros tipos.
Outro sintoma do agressivo, que
pensa que o poder é a solução, é a visão artificialmente cultivada de “Como o
mundo e as pessoas são más!” Uma pessoa que procura provas dessa visão negativa
recebe muitas confirmações, e se orgulha de ser “objetiva” e o oposto de
crédula – o que serve como razão para não gostar de ninguém. A Imagem
idealizada, nesse caso, determina que o amor é proibido. Amar ou, em outras
ocasiões, mostrar a sua verdadeira natureza, é uma grande violação da autoimagem
idealizada e produz profunda vergonha.
Ao contrário, o tipo submisso
orgulha-se de amar a todos e de considerar bons todos os outros seres humanos.
Essa perspectiva é necessária para manter e seguir a atitude submissa. Na
realidade, a pessoa desse tipo não se importa realmente se os outros são bons
ou maus, contanto que eles a amem, apreciem, aprovem e protejam. Toda a
avaliação das outras pessoas baseia-se nisso, não importa quão bem possa ser
“explicado”. Uma vez que todos têm virtudes e defeitos, cada um desses pode ser
identificado conforme a atitude predominante da outra pessoa para com o tipo
submisso.
Aquele que busca o poder jamais
deve falhar em nada. Ao contrário do tipo submisso, que glorifica o fracasso
porque ele prova o desamparo da pessoa e força os outros a dar-lhe amor e
proteção, o tipo que procura o poder sente orgulho de nunca falhar em nada. Em
certas combinações das falsas soluções o fracasso pode ser permitido porque em
alguma área específica a atitude prevalente pode ser a submissão. De forma
semelhante, o tipo submisso pode em certos casos recorrer à solução do poder.
Ambas são igualmente rígidas, irreais e irrealizáveis. Qualquer dessas
“soluções” é uma constante fonte de dor e desilusão em relação ao Eu, e
portanto produz uma falta ainda maior de respeito próprio.
Eu disse anteriormente que sempre
existe uma mistura de todas as três “soluções” em uma pessoa, embora uma possa
ser predominante. Por conseguinte, a pessoa não pode fazer justiça mesmo às
determinações da solução escolhida. Ainda que fosse nunca falhar, ou amar a
todos, ou ser inteiramente independente dos outros, isso se torna mais e mais
impossível quando os ditames da autoimagem idealizada de uma pessoa
simultaneamente exige que ela ame a todos e seja por todos amada e que os
vença. Para atingir esse objetivo a pessoa tem que ser agressiva e comumente
impiedosa.
Uma autoimagem idealizada pode,
simultaneamente exigir de uma pessoa que de um lado ela seja sempre altruísta,
de forma a obter amor; e de outro, que seja sempre egoísta, para obter poder.
Além disso, a pessoa tem também que ser completamente indiferente e distantes
de todas as emoções humanas de forma a não ser perturbada. Você pode imaginar
que conflito isso representa na alma? Quão dilacerada será uma alma! O que ela
faça é errado e causa culpa, vergonha, inadequação e portanto, frustração e
desprezo por si mesma.
Serenidade/retraimento
Consideremos agora o
terceiro atributo divino, a serenidade, escolhido como solução e, por isso,
sendo distorcido. Originalmente, uma pessoa pode ter estado tão
dividida entre os dois primeiros aspectos que uma saída teve que ser
encontrada, recorrendo a uma fuga dos problemas internos e, portanto, da vida
como tal. Sob essa retirada ou falsa serenidade, essa alma ainda está partida
ao meio, mas não tem mais consciência disso. Foi construída uma fachada tão
forte de falsa serenidade que enquanto as circunstâncias da vida permitirem, essa pessoa está convencida de
ter atingindo a verdadeira serenidade. Mas basta que as tempestades da vida a
toquem para que os efeitos do conflito que ferve, oculto, finalmente venham à
superfície, e deixem claro quão falsa era a serenidade. Então será mostrado que
na verdade ela foi construída sobre a areia.
O tipo retraído e o tipo que
busca o poder parecem ter algo em comum: distanciamento das suas emoções,
ausência de apego aos outros e uma forte necessidade de independência. Muito
embora as motivações emocionais subjacentes possam ser similares – medo de ser
ferido ou decepcionado, medo de ser dependente dos outros e por isso sentir-se
inseguro -, as determinações da autoimagem idealizada desses dois tipos são
muito diferentes. Enquanto o tipo que busca o poder se vangloria da hostilidade
e do espírito de luta agressivo, o tipo retraído é completamente inconsciente
desses sentimentos, e sempre que eles emergem fica chocado com eles por
violarem os ditames da solução de retirada.
Esses ditames são: “Você deve
olhar de forma benigna e desapegada para todos os seres humanos, sem porém ser
incomodado ou afetado por nenhum deles”. Isso, caso fosse verdadeiro, seria
mesmo serenidade, mas nenhum ser humano jamais é tão sereno assim. Portanto
tais determinações são irreais e irrealizáveis. Os ditames também incluem
orgulho e hipocrisia; orgulho, porque esse distanciamento parece muito divino
em sua justiça e objetividade. Na realidade, a visão da pessoa pode ser tão
afetada pelo que pensam os outros quando a do tipo submisso. Mas sendo
orgulhoso demais para admitir que alguém tão excelso possa ser tocado por tais
fraquezas humanas, uma pessoa desse tipo tenta elevar-se sobre todos. Isso não
é possível.
Uma vez que também esse tipo é
tão dependente dos outros quanto os dois outros, a desonestidade é exatamente a
mesma. E uma vez que a independência serena desse tipo não é verdadeira, e jamais
poderá ser, já que falamos de seres humanos, uma pessoa assim necessariamente
deve falhar quanto aos padrões e a imposição da autoimagem idealizada
particular que a faz sentir tanto desprezo por si mesma, tanta culpa e
frustração quanto os dois outros tipos, quando são incapazes de sustentar seus
respectivos padrões.
Esses três tipos básicos foram
esboçados aqui de forma muito breve, muito geral. Não é preciso dizer que
existem muitas variações. De acordo com a força, a intensidade e distribuição
dessas “soluções”, a tirania da autoimagem idealizada se manifesta.
Tudo isso tem que ser descoberto
no trabalho individual. Não se deve jamais esquecer que tais atitudes nascidas do Eu Idealizado dificilmente poderiam ser a
pessoa total. A atitude pode estar presente em grande medida em
certas áreas de personalidade, e em menor grau em outras; ainda em outras
facetas da vida ela simplesmente não aparece. A parte mais importante desse
trabalho é sentir as emoções, experimentá-las de verdade. É impossível ver-se
livre da autoimagem idealizada, que bloqueia a vida, se você simplesmente
observar de modo distanciado, com o seu intelecto, o que existe em você. É
necessário tornar-se agudamente consciente de todas essas tendências, frequentemente
contraditórias, e isso vai ser doloroso.
A necessidade do desenvolvimento
emocional
A dor que sempre existiu em você,
mas estava escondida, contra a qual você se “protegeu” depositando-a sobre os
outros, sobre a vida e sobre o destino, tornar-se-á uma experiência consciente
da qual você absolutamente precisa. À primeira vista isso passará por uma
recaída. Você vai acreditar que está em situação ainda pior do que antes de
começar o trabalho neste Pathwork. Mas não é assim. Foi o seu próprio
progresso que tornou possível que todas as emoções, até aqui ocultas, viessem à
tona de forma que você pudesse realmente usá-las para análise. De outro modo
não lhe seria possível dissolver a superestrutura do seu tirano, a sua autoimagem
idealizada e todo o mal desnecessário que ela lhe causa.
Você está tão condicionado pelas
reações emocionais com as quais se acostumou, está tão envolvido por elas, que
não pode enxergar o que está bem na sua frente. Enquanto procura por
reconhecimento novos e ocultos, você dá livre acesso às reações que fornecerão
a pista, uma vez que a sua atenção tenha o seu foco dirigido para elas. Isso
seria impossível se você não fosse incomodado. Portanto, o incômodo é obrigado
a vir para campo aberto e é nesse momento que você pode chegar a um acordo com
ele.
Portanto, meu amigo, comece a ver as suas emoções sob essa luz. Você
descobrirá então como são impossíveis as exigências que lhe faz a sua autoimagem
idealizada; você verá que é a sua autoimagem idealizada, e não Deus, a vida ou
as outras pessoas, que exige tudo isso. Começará também a ver que, por causa
dessas demandas da personalidade, você precisa que os outros o ajudem a
atendê-las. Isso faz com que você inconscientemente exija dos outros o que eles
são incapazes de dar. Então você fica muito mais dependente do que precisa ser,
malgrado todo o seu esforço em direção a uma independência distorcida do tipo
agressivo ou retirado.
Você também tem que descobrir as
causas e os efeitos dessas condições. Você verá a sua vida e as suas
dificuldades passadas e presentes com uma nova perspectiva. Você vai
compreender que criou muitas dificuldades, sendo todas, só por causa da sua
“solução”.
Não é o bastante compreender intelectualmente que quanto mais estiver
envolvido nas suas falsas soluções, menos o seu Eu Verdadeiro pode se
manifestar. É preciso experimentar isso também. Essa experiência deve ocorrer se
você permitir que as suas emoções venham para a luz e se você trabalhar com
elas. Então, você começará a sentir o valor intrínseco do se Eu Verdadeiro. Só aí será possível abrir mão dos
falsos valores do seu Eu Idealizado. Esse é um processo recíproco:
permitindo-se ver os falsos valores, por mais doloroso que isso possa ser, os
seus verdadeiros valores emergem gradualmente, de forma tal que você não mais
precisa dos falsos.
Uma vez que o Eu
Idealizado o aliena do seu Eu Verdadeiro, você está completamente inconsciente
dos seus reais valores. Ao longo de toda a sua vida você se concentra inconscientemente
nos valores falsos: seja naqueles que você não tem, mas pensa que deveria ter
enquanto finge para si mesmo e para os outros que os possui; ou você se
concentra em valores que existem potencialmente, mas que não foram ainda
desenvolvidos a ponto de poderem ser reclamados como seus por direito.
Visto que o seu Eu Idealizado não
admite que esses valores ainda precisam de desenvolvimento, você não os
desenvolve e ainda assim os reclama para si como se estivessem plenamente
maduros. Porque usa todos os seus esforços para concentra-se nesses valores
falsos ou imaturos, você não vê os valores reais. E porque você não pode vê-los,
fica temeroso de abrir mão deles, com medo de então não ter mais nada. Assim os
seus valores reais não constam, você não sente que eles existem, seja porque
eles contradizem as exigências do seu Eu Idealizado, seja porque tudo o que vem
naturalmente e sem esforço não parece real.
Você está tão condicionado a
esforçar-se pelo impossível que não lhe ocorre que não há pelo que se esforçar,
porque o que é realmente valioso já está lá. Mas quando você utiliza esses
valores, eles frequentemente quedam inertes. Isso é uma grande pena, pois
afinal de contas você estabeleceu a autoimagem idealizada porque não acreditava
no seu verdadeiro valor. Porque você constrói o Eu Idealizado e tenta ser esse
Eu, você não pode ver em si mesmo aquilo que merece aceitação e apreciação.
A princípio, é doloroso desenrolar esse processo, pois a ansiedade, a
frustração, a culpa, a vergonha, e assim por diante, têm que ser agudamente
experimentadas. Mas à medida que prossegue com coragem, você vai
obter uma perspectiva muito diferente de tudo. Finalmente, você começará a ver
o seu Eu Verdadeiro pela primeira vez. Você verá as suas limitações. No início, será um choque
ter que aceitar essas limitações que estão muito distantes do Eu
Idealizado, mas à
medida que aprende a fazê-lo, você começa a enxergar valores que nunca havia
realmente visto, dos quais nunca esteve consciente. Então um sentimento de
força e autoconfiança fará com que você visualize tanto a vida como a si mesmo
de um modo muito diferente.
Gradualmente o processo de
crescimento em direção ao seu Eu Verdadeiro se dará em você. Ele vai fortalecer
a sua verdadeira independência, não a falsa, de forma que o fato de ser
apreciado pelos outros não será mais o padrão para o seu senso de valor. A avaliação alheia só assume tamanha
importância porque você não se avalia honestamente e, assim, a avaliação alheia
torna-se um substituto. Quando você começa a confiar no seu
próprio Eu e gostar dele, o que as outras pessoas pensam a seu respeito não tem
metade dessa importância. Você terá segurança interior e não mais precisará
construir falsos valores com orgulho e pretensão. Você não se apoiará mais em
um Eu Idealizado que não é realmente digno de confiança e que, por consequência,
o enfraquece. A liberdade de abandonar esse fardo não pode ser descrita em
palavras.
Mas esse é um processo lento: ele
não vem da noite para o dia. Resulta do exame constante de si mesmo e da
análise dos seus problemas, atitudes e emoções. Ao avançar nesse caminho, o seu
Eu Verdadeiro e os seus reais valores e capacidades vão evoluir através de um
processo de crescimento interno e natural. Sua individualidade então ficará
cada vez mais forte. Sua natureza intuitiva se manifestará sem inibições, com
uma espontaneidade natural e confiável.
É assim que você vai
extrair da vida. Não com perfeição, não estando livre de todo o fracasso, não
excluindo a possibilidade de cometer erros. Contudo os fracassos e os erros
ocorrerão de uma forma bem diferente do que era antes. Você combinará cada vez
mais as atitudes divinas de amor, poder e serenidade de forma saudável, em
oposição à forma distorcida.
O amor não será um meio para
alcançar um fim. Ele não será uma necessidade que o salva da aniquilação e,
portanto, deixará de girar ao redor de si mesmo. Sua própria capacidade de amar
vai combinar poder e serenidade. Ou, para colocar de maneira diferente, você
vai se comunicar em amor e compreensão, ao mesmo tempo que será verdadeiramente
independente. O amor, o poder e a serenidade não serão usados para fornecer-lhe
o respeito próprio que está ausente.
O amor genuíno, não centralizado
em si mesmo, então não vai mais interferir com o poder sadio, que não é o poder
do orgulho e do desafio, nem o poder do triunfo sobre os outros, mas o
poder de dominar a si mesmo e às suas dificuldades sem provar nada a ninguém.
Quando busca o domínio
distorcendo o atributo poder, você o faz para provar a sua superioridade.
Quando obtém o domínio através do poder saudável, você o faz em nome do
crescimento. Não ter o domínio ocasionalmente não representará uma ameaça como
quando você estava em distorção. Isso não diminuirá o seu valor aos próprios
olhos. Assim você vai realmente crescer com cada experiência de
vida. Você vai aprender, realizar a obter o poder verdadeiro. Não existirá
qualquer ambição, compulsão ou pressa distorcida.
A serenidade sadia não fará com
que você se esconda das emoções, da experiência, da vida e dos seus próprios
conflitos; o amor e o poder, nas suas formas divinas originais, vão dar-lhe um
distanciamento saudável quando olhar para si mesmo, de forma que você se torne
realmente mais objetivo. A verdadeira serenidade não equivale a evitar
experiências e emoções que talvez sejam dolorosas no momento, mas que podem
representar uma importante chave quando existe a coragem para atravessá-las e
ver o que há por detrás.
Amor, poder e serenidade podem caminhar juntos. De fato,
quando são saudáveis, eles se complementam uns aos outros. Mas eles podem
causar a maior guerra em seu interior, caso distorcidos.
Possam estas palavras dar-lhe
alimento, não apenas para pensamento, mas para percepção e compreensão; que
vocês possam assim avançar mais um passo para a luz e a liberdade. Prossigam no
seu caminho de felicidade. Conquistem mais e mais força e permitam que nossas
bênçãos e nosso amor os auxiliem e revigorem. Abençoados sejam, meus queridos.
Fiquem em paz. Fiquem com Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário