Saudações, queridos amigos aqui presentes. Todos nós sabemos como é importante e essencial encarar e aceitar aqueles aspectos, sentimentos, convicções e atitudes que existem em você e que são ou de todo inconscientes ou não suficientemente conscientes. A menos que essa percepção seja cultivada, é impossível libertar o centro mais íntimo do seu ser, o núcleo do qual nasce toda a vida. Tentemos agora ver quanto ainda lhe resta percorrer no seu interior. O quanto você já trouxe à luz? Quão consciente você está do que realmente se passa no seu íntimo em oposição às explicações superficiais que você tem sempre à mão?
A remoção de ilusões que a
própria personalidade produziu parece a princípio uma dificuldade invencível,
já que todos os seres humanos acreditam vagamente que a verdade subjacente a
eles é inaceitável e que, portanto, eles próprios são inaceitáveis. Assim, uma
dupla ilusão tem que ser removida: a crença em questão bem como a capa com a
qual você a recobre. E essa é sempre a parte mais árdua do Pathwork.
O mal como defesa contra o sofrimento
Para continuar essa fase do seu
trabalho pessoal é preciso que você compreenda num nível mais profundo de onde
vêm as atitudes negativas e a destrutividade. Qual é a verdadeira origem do
mal? Você sabe e já me ouviu dizer frequentemente que a negação das suas
vulnerabilidades, a sua vergonha em se sentir desenganado e o seu sentimento de
não ser digno de amor criam o mal e atitudes e sentimentos destrutivos. Em
outras palavras, o mal é uma defesa contra o sofrimento. É portanto óbvio que o
seu trabalho no Pathwork daqui por diante pode estar mais imediatamente
relacionado com as feridas e sofrimentos que você suportou no princípio da sua
vida e contra os quais se defendeu até agora. Você, que aprendeu a
reexperimentar emocionalmente sentimentos passados, pode corroborar como uma
realidade sentida aquilo que eu tenho reiterado por tantos anos: a negação da
experiência original o compele e recriá-la repetidas vezes. Você recria a
experiência negada e, assim, aumenta a dor e o sofrimento acumulados. Essa
experiência deve ser repetida muitas vezes ainda, mas agora você pode fazê-lo
de modo seguro.
Uma parte excessivamente grande
daquilo que você sofreu na infância, especialmente o tamanho da sua
infelicidade, ainda é para você apenas um conhecimento intelectual. Você não
sente o quanto você era infeliz quando criança e durante muito tempo muitos dentre
vocês acreditaram exatamente o oposto em relação à própria infância. A
aquisição desse conhecimento, primeiro de forma intelectual, é a preparação
necessária para experimentá-lo. Sem essa percepção intelectual da verdade da
sua infância, as defesas não podem ser suficientemente enfraquecidas para que
ocorra uma re-experiência no nível emocional. Quando as defesas continuam
fortes, elas bloqueiam a rota para a experiência emocional, de forma que a
tentativa de chegar aos sentimentos é sufocada. Vocês agora estão realmente
prontos, meus amigos, para aventurar-se nas profundezas do seu ser. Lá vocês
podem relaxar e entregar-se livremente a todos os sentimentos acumulados que
até agora jamais poderiam deixar o seu sistema. Eles não podiam ser
transformados antes no seu natural fluxo de energia precisamente porque vocês
haviam trancado os portões aos sentimentos.
O problema da preguiça
Há algum tempo foi-me pedido que
discutisse o problema da preguiça. Existe uma íntima conexão entre este
problema e os sentimentos que não foram plenamente experimentados. Não olhe
para a preguiça como uma atitude que deva ser abandonada por um ato de vontade,
bastando que a pessoa simplesmente passe a ser razoável e construtiva. Essa não
é absolutamente uma questão moral. A preguiça é uma manifestação de apatia,
estagnação e paralisia, um resultado de energia estagnada na substância da
alma. A substância espiritual estagnada é o resultado de sentimentos que não
foram totalmente compreendidos no que tange ao seu significado e à sua
verdadeira origem. Quando sentimentos não são experimentados, compreendidos e
expressos dessa maneira, eles se acumulam e barram o fluxo da força vital.
Não basta deduzir que você deve
ter em si certos sentimentos do passado que logicamente devem ter produzido as
atuais circunstâncias. Esse conhecimento dedutivo é com frequência a abertura
necessária para permitir a experiência mais profunda. Contudo, o conhecimento,
por si mesmo, pode ser uma barricada quando você substitui por ele o sentimento. Nesse caso, a unidade dessas duas
funções é interrompida. O mesmo acontece quando você sente e não sabe o que
significam os sentimentos, por que e como eles surgem, nem como eles ainda
dirigem a sua vida no presente.
Ainda existem muitas defesas
contra a plena experiência dos sentimentos acumulados em vocês, meus amigos,
apesar de todo o progresso feito. Manter isso em mente vai ajudá-lo a
concentrar sua atenção e percepção nessas defesas, para superá-las cada vez
mais. Você pode reduzir sistematicamente o limiar da defesa contra as suas
experiências profundas acumuladas, que se tornaram venenosas por não serem
liberadas. Essas experiências dolorosas não podem ser liberadas caso não sejam
sentidas, conhecidas, expressas e vividas o mais plenamente possível.
Recapitulando: tudo o que
é mau, destrutivo e negativo na natureza humana é resultado das defesas contra
a experiência de sentimentos dolorosos e indesejáveis. Essa
negação paralisa a energia. Quando os sentimentos ficam estagnados, acontece o
mesmo com a energia; e, se a energia se estagna, você não pode se mover. Como
você sabe, os sentimentos são correntes de energia em
movimento. Eles se transformam constantemente de um conjunto ou
tipo de sentimentos em outro, desde que a energia flua livremente. A não experiência
dos sentimentos paralisa o movimento dessas correntes, detendo a energia viva.
Quando o fluxo natural de energia é barrado no interior da sua substância
espiritual, você sente preguiça, aquele estado no qual o movimento só é
possível se forçado dolorosamente pela vontade exterior. Portanto, quando você
se sentir como que estagnado, preguiçoso, passivo ou inerte, e não quiser fazer
nada, o que é frequentemente confundido com o estado espiritual de apenas
existir, você tem um bom sinal de que existem sentimentos no seu interior que
criaram uma toxicidade psíquica porque você não se dispôs a experimentá-los e
reconhecê-los.
A estagnação de correntes de
energia aprisiona não apenas sentimentos, mas também conceitos. Você generaliza
a partir de ocorrências particulares e se aferra à falsas crenças resultantes. É
raro que sentimentos estagnados não incluam também conceituações estagnadas da
vida. Essas podem existir nos mais profundos recessos da alma, totalmente
escondidas da consciência. Isso é o que eu, anos atrás, denominei as “imagens”
que são mantidas no interior da psique. Eu o ajudei a descobrir essas imagens,
e você viu como era compelido a reexperimentar concepções errôneas e
sentimentos estagnados. Mais de uma vez você se vê aprisionado no ciclo
que reproduz o passado de uma maneira ou de outra, até que possa reunir coragem
para optar por viver completamente agora aquilo que não foi vivido antes por
causa das suas defesas. Você não pode sair desses ciclos repetitivos,
não importa quão boas sejam as suas intenções e quanto esforço você emprega em
outros caminhos, a menos que realmente vivencie plenamente os seus sentimentos
anteriores. Dissemos muitas vezes que o problema humano é a divisão dualista, a
qual não passa de uma ilusão da percepção. Essa ilusão tem muitas facetas,
sendo que uma delas é uma divisão na própria consciência humana. Os seres
humanos podem sentir uma coisa, acreditar em outra e agir sem saber como ambas
essas funções os governam. A falta de percepção do que você sente e do que
realmente acredita cria outra manifestação da divisão. Quando você junta
conhecimento e sentimento, você trabalha em direção ao reparo e à integração, o
que se manifesta como um novo e maravilhoso despertar e um sentimento de
inteireza.
Apenas a passividade da
personalidade medrosa que cria um frenesi como forma de contrabalançar a
estagnação. É como se a personalidade lutasse ferozmente contra a estagnação
superpondo-lhe a ação compulsiva e, então, tornando-se mais alienada da verdade
de sua estagnação e da razão dessa estagnação, que é o medo de realmente sentir
os próprios sentimentos, inclusive o medo. Somente quando essa verdade é
plenamente sentida e compreendida, quando você pára de lutar contra ela e
dissolve a sua causa através da vivência dos seus sentimentos, é que você pode
sair tanto do frenesi da superatividade quanto da paralisia. Em outras
palavras, você deve sentir o medo que se apoia na preguiça e em todos os tipos
de estagnação.
Esse medo existe em todos, mesmo
naqueles que não são abertamente preguiçosos ou que não se dão conta de outros
sintomas causados pelo medo oculto. Essa condição humana básica do medo precisa
receber permissão para se expressar externamente. Você deve permitir que ele
assuma o controle, nas condições adequadas, logicamente. E, quando sentir esse
medo, você descobrirá nele dois elementos básicos: o primeiro elemento são as
condições da infância, que foram tão dolorosas que você pensou não poder
permitir-se senti-las, separando-se portanto delas. E o segundo elemento, ainda
mais importante e significativo, é o medo do medo, o medo de sentir medo; é aí
que o verdadeiro dano se encontra.
Há alguns anos, proferi
para vocês uma palestra sobre o tema da autoperpetuação e mostrei como um
sentimento negado alimenta-se a si mesmo, de forma a se multiplicar. Por exemplo: o medo negado
cria o medo do medo, o medo de sentir o medo do medo, e assim por diante. O
mesmo vale para outros sentimentos. A raiva negada cria a raiva
de ter raiva; então, quando isso é negado, a pessoa fica ainda com mais raiva
por ser incapaz de aceitar a raiva, e assim infinitamente. A frustração em si é
suportável quando você entra totalmente nela. Mas quando você fica frustrado
porque "não deveria" ficar frustrado, e então fica ainda mais
frustrado porque o nega, a dor aumenta. Esse processo é muito importante porque
aponta claramente para a necessidade de sentir diretamente, não importa quão
indesejáveis possam ser os sentimentos. Se você alimenta a sua dor por negar-se
a senti-la, essa dor secundária tomar-se-á inevitavelmente amarga, tortuosa e
insuportáveis.
Quando os sentimentos não são
experimentados na sua total intensidade, o fluxo interior de vida
necessariamente fica estagnado. As pessoas se sentem inexplicavelmente
paralisadas. Suas ações se tornam ineficazes; a vida parece obstruir todas as
suas metas e desejos. Elas encontram portas fechadas para a realização dos seus
talentos, de suas necessidades, enfim, para a sua realização como um todo. A
assim chamada preguiça pode ser uma manifestação dessa paralisia. Uma falta de
criatividade ou um sentimento de desespero generalizado podem ser outra. Neste
último caso, as pessoas muitas vezes podem usar um evento ou dificuldade
corrente para explicar o seu estado interior. A verdade é que um senso de
futilidade e confusão a respeito da vida e do seu papel nela irão envolvê-lo
quando você resiste à plena vivência dos sentimentos que abriga; você continua
a abrigá-los porque se ilude dizendo que evitar os sentimentos vai feri-lo
menos do que se os expressasse. Há muitas outras manifestações. A incapacidade
de sentir prazer ou de viver a vida plenamente é um dos efeitos gerais mais
comuns.
O medo de sentir todos os
sentimentos
A total experiência de um
sentimento está disponível na medida de sua disposição e prontidão para
aventurar-se nela. Esses sentimentos são com frequência acumulações de séculos
ou de milênios — e não apenas de décadas. Cada encarnação apresenta-lhe a
tarefa de se purificar ao experimentá-los e compreendê-los. Você está
purificado quando não existem mais refugos. Depois que você terminar o ciclo
desta vida, as condições, as circunstâncias e o ambiente da sua próxima vida,
para os quais você é atraído por uma lei inexorável, vão dar-lhe a oportunidade
de expor qualquer refugo acumulado anteriormente. Mas a lembrança das
encarnações anteriores está obnubilada, de forma que você tem apenas as
experiências desta vida para utilizar.
A diminuição da memória é um
subproduto do ciclo vida e morte, no qual estão presos todos os que se negam a
experimentar o sentimento. Se você continua negando a percepção e recusando-se
a experiência daquilo que viveu nesta mesma vida, você perpetua o processo de
redução da memória. Assim você perpetua o ciclo de morrer e nascer, e esse
processo sempre se manifesta como uma quebra na continuidade da percepção. No
sentido inverso, você elimina essa descontinuidade de percepção, e com ela todo
o ciclo de morte e nascimento, ao vivenciar o que quer que se tenha acumulado
nesta vida, sempre que for possível restabelecer os elos da memória. Se
todos os sentimentos desta existência foram plenamente experimentados, toda a
matéria residual de vidas anteriores será tratada automaticamente porque o
trauma de agora só é um trauma porque as dores anteriores foram negadas.
Vocês podem fazê-lo, meus amigos,
se confiarem no processo e na aventura de desapegar-se verdadeiramente. E aqui,
de novo, está o problema. Você não pode deixar acontecer se o seu ser mais
íntimo se defende contra a vivência dos seus sentimentos, que você sabe que
existem no seu interior. Na realidade, você se defende contra o estabelecimento
de um elo de ligação entre esses sentimentos, o seu conhecimento interior e os
seus padrões de ação atuais. A paralisia que frequentemente é chamada de
preguiça, e sobre a qual você tem uma postura moralista como se fosse realmente
indolência, deve portanto ser vista como um sintoma muito indireto.
A preguiça é uma proteção contra
o movimento da substância da alma que ameaça trazer à superfície os sentimentos
que você pensa que pode continuar evitando sem que isso bloqueie a sua vida.
Assim, a preguiça é ao mesmo tempo tanto um efeito quanto uma defesa. O
movimento remexe aquilo que está estagnado. Pela compreensão plena desse fato
você pode redirecionar sua vontade e intenção interior rumo à superação dessa
estagnação protetora autoinduzida, reunindo coragem para sentir o que deve ser sentido.
O verdadeiro e sereno estado de apenas ser, pelo qual toda alma anseia
inconscientemente, não é uma passividade cautelosa que deve evitar o movimento
e que o faz parecer indesejável. O verdadeiro estado espiritual de apenas ser é
bastante ativo, embora seja calmo e descontraído ao mesmo tempo. Esse estado é
movimento e ação cheios de prazer. E apenas a passividade da personalidade
medrosa que cria um frenesi como forma de contrabalançar a estagnação. É como
se a personalidade lutasse ferozmente contra a estagnação superpondo-lhe a ação
compulsiva e, então, tornando-se mais alienada da verdade de sua estagnação e
da razão dessa estagnação, que é o medo de realmente sentir os próprios
sentimentos, inclusive o medo. Somente quando essa verdade é plenamente sentida
e compreendida, quando você pára de lutar contra ela e dissolve a sua causa
através da vivência dos seus sentimentos, é que você pode sair tanto do frenesi
da superatividade quanto da paralisia. Em outras palavras, você deve sentir o
medo que se apoia na preguiça e em todos os tipos de estagnação.
Esse medo existe em todos, mesmo
naqueles que não são abertamente preguiçosos ou que não se dão conta de outros
sintomas causados pelo medo oculto. Essa condição humana básica do medo precisa
receber permissão para se expressar externamente. Você deve permitir que ele
assuma o controle, nas condições adequadas, logicamente. E, quando sentir esse
medo, você descobrirá nele dois elementos básicos: o primeiro elemento são as
condições da infância, que foram tão dolorosas que você pensou não poder
permitir-se senti-las, separando-se portanto delas. E o segundo elemento, ainda
mais importante e significativo, é o medo do medo, o medo de sentir medo; é aí
que o verdadeiro dano se encontra.
Se você aceita e sente a dor, tem
início, automaticamente, um processo de dissolução. Muitos de vocês já
experimentaram essa verdade muitas vezes no seu Pathwork. O mesmo se aplica ao
medo, à raiva, à frustração ou a qualquer outro sentimento.
Portanto, quando você sentir o
medo do seu medo e puder deixar-se mergulhar no próprio medo, este vai
rapidamente dar lugar a um outro sentimento negado. O sentimento negado, por
sua vez — qualquer que seja ele —, vai ser mais facilmente suportável que a sua
negação do medo. E o próprio medo é mais suportável que o medo do medo.
Dessa maneira, você pode progredir até o núcleo da energia residual acumulada
dos sentimentos negados. Lutar contra os seus medos e defender-se deles cria
toda uma outra camada de experiência alienada da sua essência e, que portanto,
é artificial e mais dolorosa que a experiência original contra a qual você
luta.
O compromisso de entrar e ir até
o fim
O seu Eu consciente como
um todo tem que reunir todas as suas faculdades, todos os seus recursos e usar
toda a experiência que você obteve para estar plenamente determinado a sentir o
medo de sentimentos profundos, dolorosos, mortificantes e assustadores que
existem no seu interior. Como eu já lhes disse muitas vezes, “A única maneira de sair é
entrar e ir até o fim”.
É importante agora focalizar a
sua meditação.
Aqueles dentre vocês que
ficaram convencidos do grande poder assim gerado aprenderam que a focalização
específica e a direção consciente dadas às suas meditações evoca uma orientação
interior na medida justa e equilibrada, a qual então pode ser aplicada às suas
vidas. A
direção adequada tem dois aspectos: primeiro, você precisa do compromisso de
entrar em si mesmo e não contornar-se. Esse compromisso voluntário de entrar
nos seus sentimentos e de atravessá-los até o fim deve ser a força propulsora
dessa meditação específica. Sua declaração e afirmação de que isso é o que você quer e
tenciona fazer criará necessariamente uma nova condição na substância da sua
alma. Você então pode pedir orientação especifica, pois liberará imediatamente
uma parte da matéria estagnada. A indolência que faz com que você evite, adie e
procrastine vai desaparecer suficientemente neste ponto para pôr em movimento
um novo influxo de energia. A atitude voluntária de compromisso vai criar um
influxo energético involuntário e ativar a sabedoria condutora do seu Eu Espiritual.
Afirmar na sua meditação a intenção e o desejo de experimentar todos os sentimentos
acumulados e de livrar-se do refugo é o melhor e o mais eficaz dos começos.
Além do equilíbrio e do tempo
corretos, vão ser oferecidas orientação interior e exterior exatamente na
medida que você precisa para a sua situação pessoal. Você vai aprender a
sintonizar-se com essa orientação e a senti-la, em vez de ficar surdo e cego
para ela. Sim, porque na verdade ela sempre existiu como um potencial à espera
– não apenas para esta fase do Pathwork, é claro, mas para cada fase
individual, especifica, pela qual você precise passar. O Eu Exterior, volitivo,
deve desempenhar o seu papel voluntariamente, de forma que o Eu Involuntário
possa então assumir o controle.
Esse Eu Involuntário manifesta-se
de duas maneiras inteiramente diferentes: a sabedoria e orientação superiores
que acabam de ser mencionadas, e a emergência do Eu, que frequentemente se
contorce de dor mas nega a experiencia da dor residual de muito tempo atras. O
primeiro ajuda e guia o último.
Através dessa abordagem de meditação
ocorre a libertação de uma energia que pode ser dirigida para esse propósito
fundamental. Você
geralmente persuade a si mesmo de que lhe faltam a energia e o tempo
necessários para descer às profundezas dos seus sentimentos. Ao
mesmo tempo, você gasta muita energia em outras atividades que podem muito bem
parecer mais importantes e vitais que aquelas; elas jamais podem ser mais
importantes que essa exploraçao, uma vez que a realização da tarefa desta vida
é a sua verdadeira razão de viver. Além disso, ela é a chave de uma vida
produtiva para você agora mesmo.
O segundo aspecto importante da meditação é reunir a sua fé de que o fato
de “prosseguir” não irá fazê-lo. Em outras palavras, se a
segurança e a validade desse curso não forem claramente divisadas no início,
sua ausência de inclinação para experimentar sentimentos dolorosos vai inadvertidamente
levá-lo a fabricar uma dúvida artificial sobre a segurança do processo. Junto
com esta vem uma ilusão artificial de que é possível evitar o “prosseguimento”
e, ainda assim, atingir a integração, a saúde e a vida plena. O ato de evitar
os sentimentos sempre cria esses paradoxos dualistas de falsa dúvida e de falsa
esperança.
Muitos anos atrás, numa palestra
chamada “O Abismo da Ilusão”, eu disse que o Pathwork de autorrealização e unificação
contém muitos pontos crísticos nos quais é preciso deixar a personalidade cair
naquilo que parece um abismo sem fundo. A queda nesse abismo ameaça aniquilar a
entidade. Eu afirmei que até um cero ponto de evolução individual, a pessoa
encolhe-se à beira desse abismo, segurando-se e não ousando saltar. A pessoa
nesse estado fica muito infeliz, mas ainda acredita que a falsa segurança dessa
posição tensa e medrosa é preferível ao aniquilamento. Somente depois de ter
reunido bastante confiança para arriscar o salto é que a pessoa pode descobrir
que na realidade ela flutua. Muitos momentos críticos como esse são necessários
para que se descubra sempre novamente que o salto é seguro.
O mesmo se aplica ao fato de
deixar-se cair no aparente precipício dos seus sentimentos bloqueados –
sentimentos dolorosos, assustadores. A menos que o faça, você permanecerá na
posição encolhida e desconfortável na qual é realmente impossível viver e
gostar de si mesmo. A
fé necessária para dar o salto pode ser tirada enfrentando-se claramente e
questão fundamental, que pode ser resumida da seguinte maneira:
“Existe mesmo um poço sem fundo da negatividade, destruição e mal nos alicerces
da condição humana? Existem muitos pontos críticos nos quais a fé de um ser
humano é posta à prova. Você tem de enfrentar a discrepância entre o que você
diz que acredita e o que você realmente acredita. Se você acredita na natureza
espiritual fundamental da humanidade, então não há o que temer. Caso
contrário, é preciso dar-se conta dessa dúvida subjacente e enfrentar a sua
verdadeira natureza. Encarar suas dúvidas abertamente vai protegê-lo, pelo
menos, da natureza ilusória da sua fé na humanidade e no seu destino
espiritual. Se por fim, então, você continuar tendo a convicção de que a humanidade
é essencialmente má, destruidora, assustadora e caótica, o verdadeiro motivo
dessa crença também deve ser analisado. Essa confrontação entre aquilo
em que o indivíduo verdadeiramente acredita e aquilo em que ele pensa que
acredita deve sempre ser procedida honestamente. Isso é verdadeiro para
qualquer questão importante. A ajuda e a orientação podem e devem ser
ativados através da meditação para esse propósito específico.
Afirme também, na sua meditação,
que você quer ter consciência dos seus métodos especiais de escape e que você
não mais deseja enganar-se a esse respeito. É melhor continuar evitando o salto
para o abismo, sabendo que o faz e por quê, do que negar o seu medo de saltar e
fingir que não o sente. Ao admitir livremente o seu medo você está em contato mais íntimo
consigo mesmo que quando nega o medo. Questionando a
validade do medo, você muitas vezes pode descobrir que a verdadeira razão que
está por trás do medo é a vergonha e o seu parceiro, o orgulho. O orgulho e a
vergonha negados com frequência criam medo. A ideia de que é humilhante
ter certos sentimentos ou estar em certos estados vulneráveis, junto com a ideia
de que você não deveria estar onde está e o sentimento de que o seu sofrimento
na infância é devido ao fato de que você é inaceitável e indigno de amor, tudo
isso cria a tendência de negar o estado no qual você se encontra. Assim, a pressão dessa negação cria
o medo e este, por sua vez, exige que a pessoa fabrique teorias que o
justifiquem. Se as pessoas se convencem de que é realmente perigoso
sentir o que sentem, essa convicção pode produzir um colapso e uma crise que
são meros resultados dessa profunda convicção. O terror pode levar a
pessoa a um agudo estado de crise. Mas o verdadeiro sentimento essencial que
subjaz a tudo isso é muitas vezes apenas vergonha e orgulho e a concepção
errônea de que a dor da infância existiu em razão da inadequação pessoal, que a
pessoa sente vergonha demais para expor.
A transposição da barreira
do constrangimento, da humilhação e do orgulho geralmente dissolverá o medo.
Você deve confrontar e encarar francamente essas questões. Só assim o caminho
pode ser aplainado para permitir que você entre em si mesmo. A meditação é um requisito
sem o qual o caminho torna-se desnecessariamente difícil. Uma
abordagem e atitude desse tipo criarão o clima que você necessita para penetrar
no abismo de medo, solidão, desamparo, dor e de raiva gerada pelo sofrimento
que você tem de suportar. Cada lágrima não derramada é uma barreira. Cada
protesto não enunciado permanece em você e o obriga a expressá-lo onde ele não
é apropriado. Todos esses sentimentos parecem poços sem fundo mas, uma vez que
mergulhe no interior deles, você descobrirá inevitavelmente que existe no seu
interior, lá no fundo, aquele núcleo divino que habita em você e do qual você é
uma expressão. Ele é luz, calor, vitalidade e segurança. Todas essas são
perfeitas realidades, mas só podem ser experimentadas quando você atravessa a
realidade até agora negada dos sentimentos evitados.
A travessia do portal
O seu Eu Espiritual, com
toda a sua alegria, segurança e paz, está logo atrás da tristeza e da dor. Ele
não pode ser ativado por um ato direto da vontade nem por práticas e ações que
deixam de fora a necessidade de experimentar todos os seus sentimentos.
Mas o seu Centro Espiritual manifesta-se inexoravelmente como um
subproduto, o resultado do ato volitivo direto de passar através dos seus
sentimentos negados.
Concluirei esta palestra dizendo-lhes que o medo não é real. Ele
é, na verdade, uma ilusão, mas vocês devem passar por ele, senti-lo. Do outro
lado do portal do sentimento das suas fraquezas está a sua força; do outro lado
do portal do sentimento da sua dor estão o seu prazer e a sua alegria; do outro
lado do portal do sentimento da sua solidão está a sua capacidade de ter
satisfação, amor e companheirismo; do outro lado do portal do sentimento do seu
ódio está a sua capacidade de amar; do outro lado do portal do sentimento da
sua desesperança está a verdadeira e justificada esperança; do outro lado do
portal da aceitação das privações da infância está a sua plenitude agora. Ao
experimentar todos esses sentimentos e estados é essencial que você não engane
a si mesmo, forçando-se a acreditar que eles são causados por qualquer coisa
que você sente ou não consegue sentir agora. O que quer que o agora traga, é
apenas o resultado do passado que ainda continua no seu sistema.
Atravessando esses portais, você
encontrará a verdadeira vida. Todas as muitas tentações que o chamam a seguir
caminhos pelos quais é possível descobrir a própria realidade espiritual sem
passar pelos portais mencionados não passam de devaneios. Não há como contornar
o que se acumulou em você e que envenenou todo o seu sistema espiritual,
psicológico, e muitas vezes também o seu sistema físico. Esse veneno só pode
ser eliminado por meio da experiência e
sentir aquilo que você esperava poder evitar sentir. Então, um novo influxo
energético surge numa proporção cada vez maior. Muitos de vocês experimentaram
em alguma medida o que eu digo aqui, e nisso reside o seu crescimento. Mas
todos vocês têm que ir mais longe nesse caminho. A autopunição pelo ódio e pelo
rancor, pela crueldade e pela cobiça, pelo egoísmo e pelas exigências
unilaterais sobre os outros, deve ser liberada para que vocês possam penetrar
no terror do medo, da vergonha e da dor. Quando deixarem de lutar contra isso,
vocês serão reais, abertos, e estarão verdadeiramente vivos. Bençãos para
todos.
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