- CAPÍTULO 20 - A DISSOLUÇÃO DOS MEUS MEDOS

Saudações, queridos amigos aqui presentes. Todos nós sabemos como é importante e essencial encarar e aceitar aqueles aspectos, sentimentos, convicções e atitudes que existem em você e que são ou de todo inconscientes ou não suficientemente conscientes. A menos que essa percepção seja cultivada, é impossível libertar o centro mais íntimo do seu ser, o núcleo do qual nasce toda a vida. Tentemos agora ver quanto ainda lhe resta percorrer no seu interior. O quanto você já trouxe à luz? Quão consciente você está do que realmente se passa no seu íntimo em oposição às explicações superficiais que você tem sempre à mão?

A remoção de ilusões que a própria personalidade produziu parece a princípio uma dificuldade invencível, já que todos os seres humanos acreditam vagamente que a verdade subjacente a eles é inaceitável e que, portanto, eles próprios são inaceitáveis. Assim, uma dupla ilusão tem que ser removida: a crença em questão bem como a capa com a qual você a recobre. E essa é sempre a parte mais árdua do Pathwork.

O mal como defesa contra o sofrimento

Para continuar essa fase do seu trabalho pessoal é preciso que você compreenda num nível mais profundo de onde vêm as atitudes negativas e a destrutividade. Qual é a verdadeira origem do mal? Você sabe e já me ouviu dizer frequentemente que a negação das suas vulnerabilidades, a sua vergonha em se sentir desenganado e o seu sentimento de não ser digno de amor criam o mal e atitudes e sentimentos destrutivos. Em outras palavras, o mal é uma defesa contra o sofrimento. É portanto óbvio que o seu trabalho no Pathwork daqui por diante pode estar mais imediatamente relacionado com as feridas e sofrimentos que você suportou no princípio da sua vida e contra os quais se defendeu até agora. Você, que aprendeu a reexperimentar emocionalmente sentimentos passados, pode corroborar como uma realidade sentida aquilo que eu tenho reiterado por tantos anos: a negação da experiência original o compele e recriá-la repetidas vezes. Você recria a experiência negada e, assim, aumenta a dor e o sofrimento acumulados. Essa experiência deve ser repetida muitas vezes ainda, mas agora você pode fazê-lo de modo seguro.

Uma parte excessivamente grande daquilo que você sofreu na infância, especialmente o tamanho da sua infelicidade, ainda é para você apenas um conhecimento intelectual. Você não sente o quanto você era infeliz quando criança e durante muito tempo muitos dentre vocês acreditaram exatamente o oposto em relação à própria infância. A aquisição desse conhecimento, primeiro de forma intelectual, é a preparação necessária para experimentá-lo. Sem essa percepção intelectual da verdade da sua infância, as defesas não podem ser suficientemente enfraquecidas para que ocorra uma re-experiência no nível emocional. Quando as defesas continuam fortes, elas bloqueiam a rota para a experiência emocional, de forma que a tentativa de chegar aos sentimentos é sufocada. Vocês agora estão realmente prontos, meus amigos, para aventurar-se nas profundezas do seu ser. Lá vocês podem relaxar e entregar-se livremente a todos os sentimentos acumulados que até agora jamais poderiam deixar o seu sistema. Eles não podiam ser transformados antes no seu natural fluxo de energia precisamente porque vocês haviam trancado os portões aos sentimentos.

O problema da preguiça

Há algum tempo foi-me pedido que discutisse o problema da preguiça. Existe uma íntima conexão entre este problema e os sentimentos que não foram plenamente experimentados. Não olhe para a preguiça como uma atitude que deva ser abandonada por um ato de vontade, bastando que a pessoa simplesmente passe a ser razoável e construtiva. Essa não é absolutamente uma questão moral. A preguiça é uma manifestação de apatia, estagnação e paralisia, um resultado de energia estagnada na substância da alma. A substância espiritual estagnada é o resultado de sentimentos que não foram totalmente compreendidos no que tange ao seu significado e à sua verdadeira origem. Quando sentimentos não são experimentados, compreendidos e expressos dessa maneira, eles se acumulam e barram o fluxo da força vital.

Não basta deduzir que você deve ter em si certos sentimentos do passado que logicamente devem ter produzido as atuais circunstâncias. Esse conhecimento dedutivo é com frequência a abertura necessária para permitir a experiência mais profunda. Contudo, o conhecimento, por si mesmo, pode ser uma barricada quando você substitui por ele o  sentimento. Nesse caso, a unidade dessas duas funções é interrompida. O mesmo acontece quando você sente e não sabe o que significam os sentimentos, por que e como eles surgem, nem como eles ainda dirigem a sua vida no presente.

Ainda existem muitas defesas contra a plena experiência dos sentimentos acumulados em vocês, meus amigos, apesar de todo o progresso feito. Manter isso em mente vai ajudá-lo a concentrar sua atenção e percepção nessas defesas, para superá-las cada vez mais. Você pode reduzir sistematicamente o limiar da defesa contra as suas experiências profundas acumuladas, que se tornaram venenosas por não serem liberadas. Essas experiências dolorosas não podem ser liberadas caso não sejam sentidas, conhecidas, expressas e vividas o mais plenamente possível.

Recapitulando: tudo o que é mau, destrutivo e negativo na natureza humana é resultado das defesas contra a experiência de sentimentos dolorosos e indesejáveis. Essa negação paralisa a energia. Quando os sentimentos ficam estagnados, acontece o mesmo com a energia; e, se a energia se estagna, você não pode se mover. Como você sabe, os sentimentos são correntes de energia em movimento. Eles se transformam constantemente de um conjunto ou tipo de sentimentos em outro, desde que a energia flua livremente. A não experiência dos sentimentos paralisa o movimento dessas correntes, detendo a energia viva. Quando o fluxo natural de energia é barrado no interior da sua substância espiritual, você sente preguiça, aquele estado no qual o movimento só é possível se forçado dolorosamente pela vontade exterior. Portanto, quando você se sentir como que estagnado, preguiçoso, passivo ou inerte, e não quiser fazer nada, o que é frequentemente confundido com o estado espiritual de apenas existir, você tem um bom sinal de que existem sentimentos no seu interior que criaram uma toxicidade psíquica porque você não se dispôs a experimentá-los e reconhecê-los.

A estagnação de correntes de energia aprisiona não apenas sentimentos, mas também conceitos. Você generaliza a partir de ocorrências particulares e se aferra à falsas crenças resultantes. É raro que sentimentos estagnados não incluam também conceituações estagnadas da vida. Essas podem existir nos mais profundos recessos da alma, totalmente escondidas da consciência. Isso é o que eu, anos atrás, denominei as “imagens” que são mantidas no interior da psique. Eu o ajudei a descobrir essas imagens, e você viu como era compelido a reexperimentar concepções errôneas e sentimentos estagnados. Mais de uma vez você se vê aprisionado no ciclo que reproduz o passado de uma maneira ou de outra, até que possa reunir coragem para optar por viver completamente agora aquilo que não foi vivido antes por causa das suas defesas. Você não pode sair desses ciclos repetitivos, não importa quão boas sejam as suas intenções e quanto esforço você emprega em outros caminhos, a menos que realmente vivencie plenamente os seus sentimentos anteriores. Dissemos muitas vezes que o problema humano é a divisão dualista, a qual não passa de uma ilusão da percepção. Essa ilusão tem muitas facetas, sendo que uma delas é uma divisão na própria consciência humana. Os seres humanos podem sentir uma coisa, acreditar em outra e agir sem saber como ambas essas funções os governam. A falta de percepção do que você sente e do que realmente acredita cria outra manifestação da divisão. Quando você junta conhecimento e sentimento, você trabalha em direção ao reparo e à integração, o que se manifesta como um novo e maravilhoso despertar e um sentimento de inteireza.

Apenas a passividade da personalidade medrosa que cria um frenesi como forma de contrabalançar a estagnação. É como se a personalidade lutasse ferozmente contra a estagnação superpondo-lhe a ação compulsiva e, então, tornando-se mais alienada da verdade de sua estagnação e da razão dessa estagnação, que é o medo de realmente sentir os próprios sentimentos, inclusive o medo. Somente quando essa verdade é plenamente sentida e compreendida, quando você pára de lutar contra ela e dissolve a sua causa através da vivência dos seus sentimentos, é que você pode sair tanto do frenesi da superatividade quanto da paralisia. Em outras palavras, você deve sentir o medo que se apoia na preguiça e em todos os tipos de estagnação.

Esse medo existe em todos, mesmo naqueles que não são abertamente preguiçosos ou que não se dão conta de outros sintomas causados pelo medo oculto. Essa condição humana básica do medo precisa receber permissão para se expressar externamente. Você deve permitir que ele assuma o controle, nas condições adequadas, logicamente. E, quando sentir esse medo, você descobrirá nele dois elementos básicos: o primeiro elemento são as condições da infância, que foram tão dolorosas que você pensou não poder permitir-se senti-las, separando-se portanto delas. E o segundo elemento, ainda mais importante e significativo, é o medo do medo, o medo de sentir medo; é aí que o verdadeiro dano se encontra.

Há alguns anos, proferi para vocês uma palestra sobre o tema da autoperpetuação e mostrei como um sentimento negado alimenta-se a si mesmo, de forma a se multiplicar. Por exemplo: o medo negado cria o medo do medo, o medo de sentir o medo do medo, e assim por diante. O mesmo vale para outros sentimentos. A raiva negada cria a raiva de ter raiva; então, quando isso é negado, a pessoa fica ainda com mais raiva por ser incapaz de aceitar a raiva, e assim infinitamente. A frustração em si é suportável quando você entra totalmente nela. Mas quando você fica frustrado porque "não deveria" ficar frustrado, e então fica ainda mais frustrado porque o nega, a dor aumenta. Esse processo é muito importante porque aponta claramente para a necessidade de sentir diretamente, não importa quão indesejáveis possam ser os sentimentos. Se você alimenta a sua dor por negar-se a senti-la, essa dor secundária tomar-se-á inevitavelmente amarga, tortuosa e insuportáveis.

Quando os sentimentos não são experimentados na sua total intensidade, o fluxo interior de vida necessariamente fica estagnado. As pessoas se sentem inexplicavelmente paralisadas. Suas ações se tornam ineficazes; a vida parece obstruir todas as suas metas e desejos. Elas encontram portas fechadas para a realização dos seus talentos, de suas necessidades, enfim, para a sua realização como um todo. A assim chamada preguiça pode ser uma manifestação dessa paralisia. Uma falta de criatividade ou um sentimento de desespero generalizado podem ser outra. Neste último caso, as pessoas muitas vezes podem usar um evento ou dificuldade corrente para explicar o seu estado interior. A verdade é que um senso de futilidade e confusão a respeito da vida e do seu papel nela irão envolvê-lo quando você resiste à plena vivência dos sentimentos que abriga; você continua a abrigá-los porque se ilude dizendo que evitar os sentimentos vai feri-lo menos do que se os expressasse. Há muitas outras manifestações. A incapacidade de sentir prazer ou de viver a vida plenamente é um dos efeitos gerais mais comuns.

O medo de sentir todos os sentimentos

A total experiência de um sentimento está disponível na medida de sua disposição e prontidão para aventurar-se nela. Esses sentimentos são com frequência acumulações de séculos ou de milênios — e não apenas de décadas. Cada encarnação apresenta-lhe a tarefa de se purificar ao experimentá-los e compreendê-los. Você está purificado quando não existem mais refugos. Depois que você terminar o ciclo desta vida, as condições, as circunstâncias e o ambiente da sua próxima vida, para os quais você é atraído por uma lei inexorável, vão dar-lhe a oportunidade de expor qualquer refugo acumulado anteriormente. Mas a lembrança das encarnações anteriores está obnubilada, de forma que você tem apenas as experiências desta vida para utilizar.

A diminuição da memória é um subproduto do ciclo vida e morte, no qual estão presos todos os que se negam a experimentar o sentimento. Se você continua negando a percepção e recusando-se a experiência daquilo que viveu nesta mesma vida, você perpetua o processo de redução da memória. Assim você perpetua o ciclo de morrer e nascer, e esse processo sempre se manifesta como uma quebra na continuidade da percepção. No sentido inverso, você elimina essa descontinuidade de percepção, e com ela todo o ciclo de morte e nascimento, ao vivenciar o que quer que se tenha acumulado nesta vida, sempre que for possível restabelecer os elos da memória. Se todos os sentimentos desta existência foram plenamente experimentados, toda a matéria residual de vidas anteriores será tratada automaticamente porque o trauma de agora só é um trauma porque as dores anteriores foram negadas.

Vocês podem fazê-lo, meus amigos, se confiarem no processo e na aventura de desapegar-se verdadeiramente. E aqui, de novo, está o problema. Você não pode deixar acontecer se o seu ser mais íntimo se defende contra a vivência dos seus sentimentos, que você sabe que existem no seu interior. Na realidade, você se defende contra o estabelecimento de um elo de ligação entre esses sentimentos, o seu conhecimento interior e os seus padrões de ação atuais. A paralisia que frequentemente é chamada de preguiça, e sobre a qual você tem uma postura moralista como se fosse realmente indolência, deve portanto ser vista como um sintoma muito indireto.

A preguiça é uma proteção contra o movimento da substância da alma que ameaça trazer à superfície os sentimentos que você pensa que pode continuar evitando sem que isso bloqueie a sua vida. Assim, a preguiça é ao mesmo tempo tanto um efeito quanto uma defesa. O movimento remexe aquilo que está estagnado. Pela compreensão plena desse fato você pode redirecionar sua vontade e intenção interior rumo à superação dessa estagnação protetora autoinduzida, reunindo coragem para sentir o que deve ser sentido. O verdadeiro e sereno estado de apenas ser, pelo qual toda alma anseia inconscientemente, não é uma passividade cautelosa que deve evitar o movimento e que o faz parecer indesejável. O verdadeiro estado espiritual de apenas ser é bastante ativo, embora seja calmo e descontraído ao mesmo tempo. Esse estado é movimento e ação cheios de prazer. E apenas a passividade da personalidade medrosa que cria um frenesi como forma de contrabalançar a estagnação. É como se a personalidade lutasse ferozmente contra a estagnação superpondo-lhe a ação compulsiva e, então, tornando-se mais alienada da verdade de sua estagnação e da razão dessa estagnação, que é o medo de realmente sentir os próprios sentimentos, inclusive o medo. Somente quando essa verdade é plenamente sentida e compreendida, quando você pára de lutar contra ela e dissolve a sua causa através da vivência dos seus sentimentos, é que você pode sair tanto do frenesi da superatividade quanto da paralisia. Em outras palavras, você deve sentir o medo que se apoia na preguiça e em todos os tipos de estagnação.

Esse medo existe em todos, mesmo naqueles que não são abertamente preguiçosos ou que não se dão conta de outros sintomas causados pelo medo oculto. Essa condição humana básica do medo precisa receber permissão para se expressar externamente. Você deve permitir que ele assuma o controle, nas condições adequadas, logicamente. E, quando sentir esse medo, você descobrirá nele dois elementos básicos: o primeiro elemento são as condições da infância, que foram tão dolorosas que você pensou não poder permitir-se senti-las, separando-se portanto delas. E o segundo elemento, ainda mais importante e significativo, é o medo do medo, o medo de sentir medo; é aí que o verdadeiro dano se encontra.

Se você aceita e sente a dor, tem início, automaticamente, um processo de dissolução. Muitos de vocês já experimentaram essa verdade muitas vezes no seu Pathwork. O mesmo se aplica ao medo, à raiva, à frustração ou a qualquer outro sentimento.

Portanto, quando você sentir o medo do seu medo e puder deixar-se mergulhar no próprio medo, este vai rapidamente dar lugar a um outro sentimento negado. O sentimento negado, por sua vez — qualquer que seja ele —, vai ser mais facilmente suportável que a sua negação do medo. E o próprio medo é mais suportável que o medo do medo. Dessa maneira, você pode progredir até o núcleo da energia residual acumulada dos sentimentos negados. Lutar contra os seus medos e defender-se deles cria toda uma outra camada de experiência alienada da sua essência e, que portanto, é artificial e mais dolorosa que a experiência original contra a qual você luta.

O compromisso de entrar e ir até o fim

O seu Eu consciente como um todo tem que reunir todas as suas faculdades, todos os seus recursos e usar toda a experiência que você obteve para estar plenamente determinado a sentir o medo de sentimentos profundos, dolorosos, mortificantes e assustadores que existem no seu interior. Como eu já lhes disse muitas vezes, “A única maneira de sair é entrar e ir até o fim”.

É importante agora focalizar a sua meditação. Aqueles dentre vocês que ficaram convencidos do grande poder assim gerado aprenderam que a focalização específica e a direção consciente dadas às suas meditações evoca uma orientação interior na medida justa e equilibrada, a qual então pode ser aplicada às suas vidas. A direção adequada tem dois aspectos: primeiro, você precisa do compromisso de entrar em si mesmo e não contornar-se. Esse compromisso voluntário de entrar nos seus sentimentos e de atravessá-los até o fim deve ser a força propulsora dessa meditação específica. Sua declaração e afirmação de que isso é o que você quer e tenciona fazer criará necessariamente uma nova condição na substância da sua alma. Você então pode pedir orientação especifica, pois liberará imediatamente uma parte da matéria estagnada. A indolência que faz com que você evite, adie e procrastine vai desaparecer suficientemente neste ponto para pôr em movimento um novo influxo de energia. A atitude voluntária de compromisso vai criar um influxo energético involuntário e ativar a sabedoria condutora do seu Eu Espiritual. Afirmar na sua meditação a intenção e o desejo de experimentar todos os sentimentos acumulados e de livrar-se do refugo é o melhor e o mais eficaz dos começos.

Além do equilíbrio e do tempo corretos, vão ser oferecidas orientação interior e exterior exatamente na medida que você precisa para a sua situação pessoal. Você vai aprender a sintonizar-se com essa orientação e a senti-la, em vez de ficar surdo e cego para ela. Sim, porque na verdade ela sempre existiu como um potencial à espera – não apenas para esta fase do Pathwork, é claro, mas para cada fase individual, especifica, pela qual você precise passar. O Eu Exterior, volitivo, deve desempenhar o seu papel voluntariamente, de forma que o Eu Involuntário possa então assumir o controle.

Esse Eu Involuntário manifesta-se de duas maneiras inteiramente diferentes: a sabedoria e orientação superiores que acabam de ser mencionadas, e a emergência do Eu, que frequentemente se contorce de dor mas nega a experiencia da dor residual de muito tempo atras. O primeiro ajuda e guia o último.

Através dessa abordagem de meditação ocorre a libertação de uma energia que pode ser dirigida para esse propósito fundamental. Você geralmente persuade a si mesmo de que lhe faltam a energia e o tempo necessários para descer às profundezas dos seus sentimentos. Ao mesmo tempo, você gasta muita energia em outras atividades que podem muito bem parecer mais importantes e vitais que aquelas; elas jamais podem ser mais importantes que essa exploraçao, uma vez que a realização da tarefa desta vida é a sua verdadeira razão de viver. Além disso, ela é a chave de uma vida produtiva para você agora mesmo.

O segundo aspecto importante da meditação é reunir a sua fé de que o fato de “prosseguir” não irá fazê-lo. Em outras palavras, se a segurança e a validade desse curso não forem claramente divisadas no início, sua ausência de inclinação para experimentar sentimentos dolorosos vai inadvertidamente levá-lo a fabricar uma dúvida artificial sobre a segurança do processo. Junto com esta vem uma ilusão artificial de que é possível evitar o “prosseguimento” e, ainda assim, atingir a integração, a saúde e a vida plena. O ato de evitar os sentimentos sempre cria esses paradoxos dualistas de falsa dúvida e de falsa esperança.

Muitos anos atrás, numa palestra chamada “O Abismo da Ilusão”, eu disse que o Pathwork de autorrealização e unificação contém muitos pontos crísticos nos quais é preciso deixar a personalidade cair naquilo que parece um abismo sem fundo. A queda nesse abismo ameaça aniquilar a entidade. Eu afirmei que até um cero ponto de evolução individual, a pessoa encolhe-se à beira desse abismo, segurando-se e não ousando saltar. A pessoa nesse estado fica muito infeliz, mas ainda acredita que a falsa segurança dessa posição tensa e medrosa é preferível ao aniquilamento. Somente depois de ter reunido bastante confiança para arriscar o salto é que a pessoa pode descobrir que na realidade ela flutua. Muitos momentos críticos como esse são necessários para que se descubra sempre novamente que o salto é seguro.

O mesmo se aplica ao fato de deixar-se cair no aparente precipício dos seus sentimentos bloqueados – sentimentos dolorosos, assustadores. A menos que o faça, você permanecerá na posição encolhida e desconfortável na qual é realmente impossível viver e gostar de si mesmo. A fé necessária para dar o salto pode ser tirada enfrentando-se claramente e questão fundamental, que pode ser resumida da seguinte maneira: “Existe mesmo um poço sem fundo da negatividade, destruição e mal nos alicerces da condição humana? Existem muitos pontos críticos nos quais a fé de um ser humano é posta à prova. Você tem de enfrentar a discrepância entre o que você diz que acredita e o que você realmente acredita. Se você acredita na natureza espiritual fundamental da humanidade, então não há o que temer. Caso contrário, é preciso dar-se conta dessa dúvida subjacente e enfrentar a sua verdadeira natureza. Encarar suas dúvidas abertamente vai protegê-lo, pelo menos, da natureza ilusória da sua fé na humanidade e no seu destino espiritual. Se por fim, então, você continuar tendo a convicção de que a humanidade é essencialmente má, destruidora, assustadora e caótica, o verdadeiro motivo dessa crença também deve ser analisado. Essa confrontação entre aquilo em que o indivíduo verdadeiramente acredita e aquilo em que ele pensa que acredita deve sempre ser procedida honestamente. Isso é verdadeiro para qualquer questão importante. A ajuda e a orientação podem e devem ser ativados através da meditação para esse propósito específico.

Afirme também, na sua meditação, que você quer ter consciência dos seus métodos especiais de escape e que você não mais deseja enganar-se a esse respeito. É melhor continuar evitando o salto para o abismo, sabendo que o faz e por quê, do que negar o seu medo de saltar e fingir que não o sente. Ao admitir livremente o seu medo você está em contato mais íntimo consigo mesmo que quando nega o medo. Questionando a validade do medo, você muitas vezes pode descobrir que a verdadeira razão que está por trás do medo é a vergonha e o seu parceiro, o orgulho. O orgulho e a vergonha negados com frequência criam medo. A ideia de que é humilhante ter certos sentimentos ou estar em certos estados vulneráveis, junto com a ideia de que você não deveria estar onde está e o sentimento de que o seu sofrimento na infância é devido ao fato de que você é inaceitável e indigno de amor, tudo isso cria a tendência de negar o estado no qual você se  encontra. Assim, a pressão dessa negação cria o medo e este, por sua vez, exige que a pessoa fabrique teorias que o justifiquem. Se as pessoas se convencem de que é realmente perigoso sentir o que sentem, essa convicção pode produzir um colapso e uma crise que são meros resultados dessa profunda convicção. O terror pode levar a pessoa a um agudo estado de crise. Mas o verdadeiro sentimento essencial que subjaz a tudo isso é muitas vezes apenas vergonha e orgulho e a concepção errônea de que a dor da infância existiu em razão da inadequação pessoal, que a pessoa sente vergonha demais para expor.

A transposição da barreira do constrangimento, da humilhação e do orgulho geralmente dissolverá o medo. Você deve confrontar e encarar francamente essas questões. Só assim o caminho pode ser aplainado para permitir que você entre em si mesmo. A meditação é um requisito sem o qual o caminho torna-se desnecessariamente difícil. Uma abordagem e atitude desse tipo criarão o clima que você necessita para penetrar no abismo de medo, solidão, desamparo, dor e de raiva gerada pelo sofrimento que você tem de suportar. Cada lágrima não derramada é uma barreira. Cada protesto não enunciado permanece em você e o obriga a expressá-lo onde ele não é apropriado. Todos esses sentimentos parecem poços sem fundo mas, uma vez que mergulhe no interior deles, você descobrirá inevitavelmente que existe no seu interior, lá no fundo, aquele núcleo divino que habita em você e do qual você é uma expressão. Ele é luz, calor, vitalidade e segurança. Todas essas são perfeitas realidades, mas só podem ser experimentadas quando você atravessa a realidade até agora negada dos sentimentos evitados.

A travessia do portal

O seu Eu Espiritual, com toda a sua alegria, segurança e paz, está logo atrás da tristeza e da dor. Ele não pode ser ativado por um ato direto da vontade nem por práticas e ações que deixam de fora a necessidade de experimentar todos os seus sentimentos. Mas o seu Centro Espiritual manifesta-se inexoravelmente como um subproduto, o resultado do ato volitivo direto de passar através dos seus sentimentos negados.

Concluirei esta palestra dizendo-lhes que o medo não é real. Ele é, na verdade, uma ilusão, mas vocês devem passar por ele, senti-lo. Do outro lado do portal do sentimento das suas fraquezas está a sua força; do outro lado do portal do sentimento da sua dor estão o seu prazer e a sua alegria; do outro lado do portal do sentimento da sua solidão está a sua capacidade de ter satisfação, amor e companheirismo; do outro lado do portal do sentimento do seu ódio está a sua capacidade de amar; do outro lado do portal do sentimento da sua desesperança está a verdadeira e justificada esperança; do outro lado do portal da aceitação das privações da infância está a sua plenitude agora. Ao experimentar todos esses sentimentos e estados é essencial que você não engane a si mesmo, forçando-se a acreditar que eles são causados por qualquer coisa que você sente ou não consegue sentir agora. O que quer que o agora traga, é apenas o resultado do passado que ainda continua no seu sistema.

Atravessando esses portais, você encontrará a verdadeira vida. Todas as muitas tentações que o chamam a seguir caminhos pelos quais é possível descobrir a própria realidade espiritual sem passar pelos portais mencionados não passam de devaneios. Não há como contornar o que se acumulou em você e que envenenou todo o seu sistema espiritual, psicológico, e muitas vezes também o seu sistema físico. Esse veneno só pode ser eliminado  por meio da experiência e sentir aquilo que você esperava poder evitar sentir. Então, um novo influxo energético surge numa proporção cada vez maior. Muitos de vocês experimentaram em alguma medida o que eu digo aqui, e nisso reside o seu crescimento. Mas todos vocês têm que ir mais longe nesse caminho. A autopunição pelo ódio e pelo rancor, pela crueldade e pela cobiça, pelo egoísmo e pelas exigências unilaterais sobre os outros, deve ser liberada para que vocês possam penetrar no terror do medo, da vergonha e da dor. Quando deixarem de lutar contra isso, vocês serão reais, abertos, e estarão verdadeiramente vivos. Bençãos para todos.

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  Introdução                                                                                                                                ...