- CAPÍTULO 24 - ESPAÇO INTERIOR, VAZIO FOCALIZADO

 Meus amados amigos, vocês são abençoados em corpo, alma e espírito. O seu Pathwork é abençoado, em cada passo do caminho. Vocês às vezes podem duvidar disso, quando as coisas ficam difíceis. Mas quando isso acontece, não significa que as bênçãos lhes foram negadas; significa apenas que vocês encontraram partes da sua paisagem interior que precisam ser atravessadas com sucesso. Para cruzar o terreno difícil é preciso compreender o seu significado para o seu próprio ser e, assim, dissolver as barreiras que se erguem no caminho de vocês.

Já discutimos ocasionalmente essa paisagem, esse relevo interior. Fiz menção ao espaço interior, que é o mundo real. A expressão “espaço interior” é usada com muita frequência no mundo de vocês, nos tempos atuais, em oposição a espaço exterior. A maioria dos seres humanos pensam no espaço interior como uma descrição meramente simbólica do estado de espírito de uma pessoa. Não é assim. O espaço interior é uma grande realidade, um mundo real. Ele é, de fato, o Universo real, enquanto que o espaço exterior é apenas uma imagem de espelho, um reflexo daquele. Eis por que a realidade exterior jamais pode ser entendida. A vida nunca poderá ser compreendida e absorvida através da experiência quando é vista apenas de fora. É por isso que a vida é tão frustrante, e frequentemente tão assustadora, para tantas pessoas.

Vejo que é difícil compreender como o espaço interior pode ser um mundo em si mesmo: O mundo. A razão dessa dificuldade reside, novamente, no contínuo limitado de tempo/espaço da sua realidade tridimensional. Tudo o que você vê, toca e experimenta é percebido a partir de um certo ângulo muito limitado. A mente está focalizada, acostumada, condicionada a operar numa certa direção e é, portanto, incapaz, neste ponto, de perceber a vida de qualquer outro modo. Esse modo de perceber a realidade, porém, não é de forma alguma o único, nem o correto, nem o mais completo.

A descoberta da realidade interior

Em toda disciplina espiritual, o objetivo é perceber a vida dessa outra maneira, aquela que vai além do reflexo exterior, que se concentra em novas dimensões a serem encontradas no espaço interior. Em algumas disciplinas, essa meta pode ser diretamente mencionada, ou jamais pode ser mencionada como tal. Mas quando um certo ponto de  desenvolvimento e purificação á atingido, a nova visão desperta — algumas vezes de forma repentina, outras vezes de modo gradual. Mesmo o caráter repentino da visão é uma ilusão, porque ela, na realidade, é o resultado de muitos passos árduos e de batalhas interiores.

Foi reconhecido que cada átomo é uma duplicação do universo exterior como você o conhece. Esse reconhecimento é muito significativo. Talvez você possa imaginar que, da mesma maneira que o tempo é uma variável que depende da dimensão a partir da qual ele é experimentado, assim é o espaço. Da mesma forma que não existe realmente um tempo objetivo, fixo, assim também não existe um espaço fixo e objetivo. O seu ser verdadeiro pode viver, respirar e mover-se, e cobrir grandes distâncias no interior de um átomo, de acordo com as suas medidas. Quando o espírito se retira para o mundo interior, a relação de medida muda, do mesmo modo que muda a relação com o tempo. Eis por que você parece perder contato com as pessoas ditas “mortas”, e a perder o conhecimento em relação a elas. Elas vivem na realidade interior que, para você, é ainda apenas uma abstração. Todavia, a verdadeira abstração é o espaço exterior. Na morte física, o espírito, aquilo que está vivo, retira-se para o mundo interior, e não como muitas vezes se supõe erroneamente, para o céu. Ele não se eleva para fora do corpo; ele não flutua no espaço exterior. Se, por vezes, uma percepção extra-sensorial parece revelar essa visão, esta é, novamente, produzida pelo reflexo do evento interior, como num espelho.

Da mesma maneira, a maioria dos seres humanos, há séculos, tem procurado por Deus lá em cima, nos céus. Quando Jesus Cristo veio, Ele ensinou que Deus vive nos espaços interiores, onde Ele deve ser encontrado. E por isso também que todas as práticas e exercícios de meditação se concentram no espaço interior.

Há muito tempo eu sugeri um exercício de meditação no qual você não pensa, no qual você se esvazia. Aqueles dentre vocês que ocasionalmente experimentam esse exercício sabem como é difícil fazê-lo. A mente está repleta com o seu próprio material e pará-la não é uma tarefa fácil. Existem várias maneiras de fazer isso. As religiões orientais geralmente abordam essa prática através de longa prática e disciplina. Isso, junto com a solidão e a quietude exterior, com o tempo pode produzir a quietude interior.

Nossa abordagem neste Pathwork é diferente. Estes ensinamentos não querem retirá-lo do seu mundo. Pelo contrário, o objetivo é ficar dentro do seu mundo, da melhor maneira possível. Compreender, aceitar e criar nele, do modo mais positivo e construtivo. Isso só pode ser feito quando você conhece e entende plenamente a si mesmo e quando atravessa, como eu disse, os espaços difíceis. Isso deve equipá-lo melhor para funcionar nesta realidade tridimensional. Então não existe divisão entre os espaços interior e exterior. Na medida em que a verdade interior reina, aumenta a percepção da verdade exterior. Na medida em que cresce a compreensão que você tem de si mesmo, nessa mesma medida cresce a compreensão do mundo. Ao aprender a remodelar o que em você é imperfeito, falho, você aprende também a reestruturar — a transformar — a sua vida exterior. Aprendendo a respeito da sua eterna beleza enquanto manifestação divina, a sua visão expande-se na mesma proporção para uma maior apreciação da beleza da obra do Criador. Na proporção em que a paz ganha realidade no seu interior, assim você fica em paz com este mundo mesmo quando está cercado por experiências indesejáveis. Em outras palavras: não são necessárias condições exteriores de absoluta reclusão para alcançar o espaço interior. Você toma a rota externa, na qual transpõe diretamente o que parece ser o maior dos obstáculos: as imperfeições existentes no seu interior e à sua volta. Você se aproxima delas, lida com elas, até que percam o seu aspecto assustador. Esse é o seu caminho, o seu Pathwork.

A concentração no vazio interior é um exercício adicional muito útil, mas que jamais deve ser a única abordagem à auto-realização, da mesma forma que o enfrentamento das condições adversas no seu mundo jamais deve ser a única abordagem para a sua salvação e para a salvação do mundo.

O vazio focalizado cresce, ao mesmo tempo deliberada e espontaneamente, à medida que você remove os obstáculos internos. Nos estágios iniciais, você sente apenas isso: o vazio, o nada. Se a sua mente puder se acalmar, você encontra o vazio; é isso que torna essa tentativa tão assustadora. Ela parece confirmar a suspeita de que não há nada dentro de você; de que você é realmente apenas o seu Eu exterior, mortal. E por isso que a mente fica tão ocupada, tão barulhenta — para embotar a quietude que parece anunciar o nada.

Uma vez mais você precisa de coragem para atravessar um túnel de incerteza. Você precisa assumir o risco de admitir a grande quietude, que é, a princípio, vazia de significado, desprovida de qualquer coisa que denote vida ou consciência.

Eu acho que a maioria de vocês já notou que a voz do seu Eu Superior envia suas inspirações através da mente não necessariamente logo depois de uma meditação ou prece, mas passado algum tempo, em geral quando você menos pensa. É nesse momento que a sua mente está suficientemente relaxada e livre de vontade própria para deixar que o Eu Superior se manifeste. O mesmo se aplica em relação à experiência do universo interior — do mundo real.

O vazio focalizado vai colocá-lo em contato com todos os níveis do seu ser. Ele permite a emergência do que estava oculto — as distorções, os erros, o material do Eu Inferior e, no devido tempo, a realidade do seu Eu Superior e o vasto mundo de vida eterna no qual ele habita. Existem muitas etapas e fases a serem vencidas. Os últimos estágios só podem ter lugar quando já tiver ocorrido certa purificação e integração. O vazio não focalizado é uma diminuição da consciência. O vazio focalizado, por sua vez, é um aumento da consciência. O primeiro é uma falta de sintonia, uma vaga viagem a esmo da mente que pode conduzir a um vazio inconsciente. O sono ou outros estados da inconsciência são os seus estágios finais. O vazio focalizado é extremamente concentrado, consciente e plenamente presente.

Se você focalizar o mundo interior e excluir o exterior, você não apenas cria uma divisão, mas também uma condição na qual esquece o propósito da sua encarnação. Como é possível que você cumpra a sua tarefa, qualquer que ela seja, se não utilizar o mundo exterior para esse fim? Você não teria vindo a esta dimensão se isso não fosse uma necessidade para você. Portanto, é preciso fazer uso dela e sempre colocar as condições internas e externas numa relação significativa entre si. Você está aprendendo a fazê-lo neste Pathwork. Todas as suas experiências exteriores estão relacionadas com a sua personalidade, com os vários níveis do seu Eu. O seu ser interior sempre cria as suas condições externas; esta é uma verdade que você logo aprende a reconhecer neste Pathwork. Se o relacionamento entre o externo e o interno não é um modo constante de vida, o equilíbrio inevitavelmente criará condições desfavoráveis. Você pode ver como algumas vezes, no seu mundo, pessoas que praticam muitas boas obras exteriormente enfrentam dificuldades com tanta frequência quanto outras que nunca dedicam um pensamento ao próximo. A boa intenção e as boas obras exteriores devem ter um foco  interno para evitar uma condição de desarmonia e uma divisão perigosa.

Os estágios do vazio focalizado

Com o tempo, o vazio focalizado o leva até a luz do eterno. Talvez possamos categorizar certos estados básicos, mesmo que de forma um tanto simplificada. Na realidade, esses estágios se sobrepõem com frequência e não ocorrem rigidamente na sequência aqui esboçada para fins de esclarecimento.

1)Você percebe o ruído e o movimento da mente.

2)Você consegue parar esse ruído, encontrando o vazio, o nada.

3)Reconhecimentos sobre a personalidade, conexões entre alguns aspectos do eu e experiências externas tornam-se claras. Surge uma nova compreensão, e com ela níveis até então não reconhecidos de material do Eu Inferior. Esse estágio é realmente um raio de orientação divina, e não uma mera experiência do Eu Inferior. O reconhecimento do Eu Inferior é sempre uma manifestação da orientação que vem do Eu Superior.

4)Manifestação direta de mensagens do Eu Superior, ou aquilo que você chama de abertura do seu canal. Você recebe conselhos, encorajamento, palavras destinadas a dar-lhe coragem e fé. Nessa fase, a orientação divina ainda opera primariamente através da sua mente. Não se trata, necessariamente, de uma experiência emocional e espiritual total. A manifestação pode excitá-lo e alegrá-lo, mas essa reação é um resultado do conhecimento que a sua mente absorveu e achou convincente.

5)Neste estágio, ocorre uma experiência direta, total, espiritual e emocional. Todo o seu ser é preenchido pelo Espírito Santo. Você sabe, não indiretamente, através da sua mente, mas diretamente, através de todo o seu ser. O conhecimento obtido através da mente é, na realidade, sempre indireto. Trata-se de um conhecimento que vem de outro lugar. A mente é o instrumento necessário para que os seres humanos funcionem neste nível de consciência. O conhecimento direto é diferente.

Essa fase tem muitas subdivisões, muitos estágios. Existem muitas, ou melhor, ilimitadas possibilidades nas quais o mundo real pode ser experimentado. Uma delas é simplesmente o conhecimento total, o qual afeta cada fibra do seu ser, cada nível da sua consciência. A experiência do mundo real também pode ocorrer através de visões de outras dimensões, mas essas visões jamais são simplesmente coisas vistas. São sempre uma experiência total que afeta a pessoa como um todo.

No mundo real, em oposição ao seu mundo fragmentado, a percepção de cada sentido é total. A visão nunca é apenas visão. E simultaneamente audição, paladar, sentimento, olfato — e muitas outras percepções a cujo respeito você não sabe nada no seu nível de ser. Neste quinto estágio, o ver, o ouvir, o perceber, o sentir, o saber, são sempre totalmente inclusivos. Eles englobam cada capacidade que Deus criou. E você dificilmente pode imaginar a riqueza, a variedade, as ilimitadas possibilidades dessas capacidades.

O vazio focalizado é o estado ideal para sermos preenchidos pelo Espírito Santo. O Espírito Santo é todo o mundo de Deus em todo o seu esplendor, na sua indescritível magnificência. Sua riqueza não pode ser expressa em linguagem humana. Não há como descrever o que existe quando o medo, a dúvida, a desconfiança — e, portanto, o sofrimento, a morte e o mal — são superados. O vazio focalizado é, portanto, nada mais que uma porta aberta para uma plenitude que só existe no mundo do espírito.

A prática do vazio focalizado jamais deve ser realizada com uma atitude de expectativa imediata. De fato, é preciso que não se tenha nenhuma expectativa, absolutamente. Expectativas são o mesmo que tensão, e a tensão impede o necessário estado de total relaxamento, interno e externo. As expectativas também são irreais, pois pode levar muitas encarnações de desenvolvimento antes que um ser humano possa chegar pelo menos próximo dessas experiências. Então, a presença de quaisquer expectativas causará decepções que, por sua vez, deflagram uma reação em cadeia de mais emoções negativas, tais como dúvida, medo e desencorajamento.

Estou falando sobre esses tópicos porque eu quero prepará-lo para uma importante prática dentro da meditação. Eu já falei a respeito no passado quando me referi aos vários modos de meditação, particularmente em relação à impressão e à expressão. Muitas das duas meditações lidaram com impressão, e devem continuar assim. Esse aspecto da impressão é uma limpeza da mente e serve para fazer dela uma ferramenta construtiva. Então a ferramenta se transforma num agente criativo.

O aspecto da expressão começou a se manifestar em certa medida com aqueles cujos canais estão abertos, talvez apenas ocasionalmente. Mas você precisa saber que existem mais estágios, mais fases e possibilidades, e você deve abordá-las com paciência, respeito e humildade. Você precisa compreender que essas experiências vão abrir os amplos espaços nos quais muitos mundos, muitos universos, muitas esferas existem, infinitas planícies, montanhas e mares de indescritível beleza. Você deve saber que esses espaços interiores não são abstrações ou expressões simbólicas; eles são muito mais reais e acessíveis que o seu mundo exterior, objetivado, que você acredita ser a única realidade. O espaço interior é baseado em medidas diferentes, numa relatividade diferente entre tempo/espaço/movimento e medida. Mesmo uma consideração cega e nebulosa desse conceito de sua parte vai mudar a sua perspectiva e criará uma nova abordagem para a continuação do seu trabalho no Pathwork.

Você não precisa passar horas praticando o vazio focalizado. O propósito não é esse. Mas você pode praticá-lo toda vez que rezar e meditar, depois de usar a mente para imprimir a sua substância espiritual e alinhá-la com a intenção divina.

O “você” real que vive no mundo real

O espírito pode penetrar a matéria na proporção em que a verdade espiritual, a saúde espiritual, estão sendo estabelecidas. E a autorresponsabilidade de uma pessoa é, na realidade, a chave para isso. Quando o Eu fica mais forte, uma proporção maior da vida pode penetrar a matéria; uma proporção maior do espírito pode ser suportado na carne. Portanto, você verá. À medida que cresce em estatura, ganhando autoconfiança, mais do seu Ser Verdadeiro é manifestado na sua encarnação física. Mais talentos podem vir à luz, talentos dos quais você nada sabia antes. De repente, uma nova sabedoria se manifesta, uma nova compreensão e capacidade de sentir e de amar; uma força até então não sentida desdobra-se a partir de você. Todas essas manifestações são o “você” real que vive no espaço interior — o mundo real. À medida que você dá espaço para esses aspectos, eles abrirão caminho para o interior da vida da matéria, e cumprirão a sua parte  no plano evolutivo. Essas atitudes não crescem a partir de fora; elas não estão sendo acrescentadas a você; são, isso sim, resultado do fato de o seu ser exterior manifesto abrir espaço para o ser interior, até então não manifesto. Isso acontece através do processo de crescimento, o difícil trabalho que você assume neste Pathwork. E, depois de um certo ponto do seu desenvolvimento, ele pode ser ajudado pela focalização sobre o vazio interior até que você descubra que o vazio é ilusão. Ele é uma plenitude, um rico mundo de glória. Você pode receber tudo o de que precisa dessa fonte interior e traduzi-lo na sua experiência exterior.

Ao se aproximar sem medo do vazio, você também remove um obstáculo à vida. Concentrar-se no espaço interior significa, para começar, abordar o que parece ser o vazio. Através desse vazio, você alcança a plenitude do espírito, a totalidade da vida na sua forma pura e desobstruída. Essa substância da vida contém todas as possibilidades de expressão, de manifestação. A alegria de experimentar essa realidade é maior do que qualquer outra. Nessa alegria, está a sua união com o Criador, na qual você é realmente uno.

Vocês podem ver, meus amigos, que nada na personalidade de vocês, nenhum aspecto dela, é insignificante em termos de criação e evolução. Não existe isso de “aspecto meramente psicológico”. Toda atitude, toda maneira de pensar, de sentir, de ser e de reagir reflete-se diretamente na sua participação no plano maior das coisas. Sabendo isso, você pode, mais uma vez, achar mais fácil dar mais valor à sua vida, ao seu Pathwork, ao seu esforço. Você aprenderá, uma vez mais, a unificar uma dualidade arbitrária — preocupações espirituais versus preocupações mundanas.

Dê espaço à vida desobstruída, ao espírito livre! Deixe-o preencher cada parte do seu ser, de forma a, finalmente, saber quem você realmente é. Todos vocês são abençoados, meus queridos.

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